Comecei experimentando uma coisa que machucava: você.
Uma coisa que doía e que não compensava. Uma coisa
que me fodia. Uma coisa que me espantava.
Uma coisa que me chifrava, uma coisa que me ardia,
uma coisa que me estuprava. Você.
Depois passei pro sorvete, pras uvas e para outras ondas
de açúcar: você. Vinho, mel, leite, marzipã, figo, hortelã,
noz, avelã, pera, melão, maçã, chocolate, morango, caramelo,
você. Cana em pó, bala de goma, quindim, brigadeiro, cocada,
pé de moleque, anis, baba de moça, a sua baba, a sua boca, você.
Aí mudei de novo pro que podia ser macio.
Pro que podia ser flácido e quentura, e escorregadio.
Nisso foi que eu entrei. Fui só caminhos invertidos, reparou?
Comecei dor e terminei paraíso, ou assim o quis:
você não deixou. Virou pancada na nuca e me matou.
Ainda nos meus lábios pendia o gosto esquisito de sangue perolado
dos teus dias, eu que aceitei tudo, até beber do barco vermelho
e sujo, e do branco ali deixado. Eu que fui amordaçado
pelo beijo repentino, eu que fui deixado.
Eu que fui amado e fui ferido, eu que fui querido e largado.
Eu que vim fugido rabiscar depressa meu nome
no fim desse brilho apagado, desse chumbo fervido
de horas que corcoveiam. Eu que não prego o olho, eu que
me destrato, eu que espero e espero e espero e espero e espero