Segurar o lábio com os dedos.
A carne mole,
os dedos alicate,
a lembrança e a dor.
O gosto amargo do sofrer,
a alegria falsa do sorriso fingido.
O nariz treme,
ao cheirar o ar do aperto.
Uma gota de sangue escorre pelo queixo,
peito,
pernas
e resta-se ao chão.
A marca do corte raso,
doído,
a marca do tempo,
passagem inútil,
marcas de horas,
trocas de folhas de calendário,
noites que vão,
dias que chegam.
O consolo é o fim,
o caminho reto de sentido,
curvo de direção.
E aquele homem que vejo todos os dias,
a mão no mesmo aceno,
dia após dia,
e o sorriso idiota,
a conta do táxi
a viagem, a volta,
a lembrança do nada,
o brinquedo de madeira,
o tufo de cabelo caído junto ao vegetal passado.
O gelo derrete sem escolha
como tudo que é lembrança.
E, antes que divague por novas e velhas bobagens,
peço à tinta que logo acabe,
às letras que apaguem,
aos olhos que fechem.