Quase Uma Elegia
Para Claudia Braga
Que se rompa agora o silêncio da minha dor
e das lágrimas e das queixas em que choro
que este mar corra ao vento, que bem faz
o mar hoje ao vento deste meu acurado
desses patrimônios que são o mar e o vento,
há um tempo, o gemido que tenho chorado,
pelas lembranças dessas águas quando vim
num tempo e num descuido que nem mesmo
lembro agora neste meu cuidado.
Que se rompa agora a pena do meu sofrimento
assim como as lágrimas e queixas divididas
que desta digníssima dor do meu lamento
chegue a merecer o ouvido que distraído
pelo rumor que toca lento o movimento
deste descompasso deste cotidiano lamento
que eu me faço chegar traiçoeiramente e
sem um algoz chamado ao olvidado.
Lisonjas, e lisonjas não pequenas,
fazem da dor o que a dor engana
do olhar através da janela, esta luz como
o quarto planeta que em um outro oriente
o substitui, simples no dia,
que ilumina toda esta centeia que viva
numa fornalha celeste menor do peito
e ao virem o sol esta côdea menor da luz,
de quem na alma os raios brilham aos olhos;
engana a sua dor( não porque espero
que esta minha rústica voz te obrigue)
como a música extraída das filigranas
consumadas e mescladas desta melodia
que se perdem nos chamados da aurora
que já raia pela manhã.
(Paráfrase a uma elegia de Pedro Calderón de la Barca)
Buquê de rosas
( Paráfrase de um poema de Octávio Paz )
Teus cabelos se perdem no bosque
e os teus fios negros tecem a noite
com intricadas linhas
quando teus pés que pisam a realidade
na sandália branca que caminha.
Adormecida, tudo parece que está
suspenso em teu sono, meu gozo
e gemido e as minhas efígies
que colhi entre as côdeas de teu
suspiro quando respira ao telefone.
Teus pés parecem-se de uma deusa
tão delicados e femininos e ferinos
que quando pisam sussurram
utopias.
Adormecida, é maior que a noite
pois ela apenas te margeia na
dimensão de que a faça sonhar.
Poeta pede ao tempo que não lhe atinja
Tempo que consome minhas entranhas,
e lento percebo o limite de seus ponteiros
a agudez do seu contorno regular e denso,
como de um algoz a espreitar a vitima.
O tempo é consciência. A matéria ida
apenas a conhece após um longo convívio.
A alma não precisa de suas delimitações
apenas do raio da lua que lhe perece.
Porém eu solitário me vou. Feneço o meu eu,
ponteiros e cordas, são a sua conjectura
em um duelo onde o nada prevalece.
Extinto, senão, de corpo e de sombra
este que aqui foi permanente fagulha
conduz-se na noite da alma.
Matar uma Mosca
Para Ferreira Gullar
Podemos matar uma mosca com a mão
mas não criá-la ou mesmo imitar a sutileza
de seu vôo quando se sobressai pela janela
ou a sua luta com seu eu para sobreviver.
Podemos matar uma mosca com a mão
mas não devolver-lhe a vida, recuperar o
que dela foi retirado por um gesto formal,
o tempo, a dignidade, o aprendizado.
Podemos matar uma mosca com a mão
mas não lhe ensinar a perspectiva do poente
impedir o sol, fechando a janela,cerrando a vida
não escurecer a luz que entra invisível do olhar.
Acalanto
Para Floriano Martins
I
Os poetas morrem assim como as flores,
que dissecadas pelo tempo, perdem a cor,
a perspectiva e a densidade e o espanto.
A morte inerte. A paisagem se desfaz,
não se extingue. O Poeta compreende
traduz as algaravias em versos unos
para que haja pelo menos uma saída
de nós mesmos.
O dialogo talvez insuspeito com a paisagem
um rio que se vai silencioso e submerso
o contorno nítido de um vôo de um pássaro
entre o sorriso e o fascine-o do não.
II
Para Marcus Tulius
A morte inerte. A paisagem se desfaz,
não se extingue. O Poeta compreende
traduz as algaravias em versos unos
para que haja pelo menos a saída
de nós mesmos dentro de nossos eu
um duelo dessa arena que nos traduz
como seres de cera.
Os canalhas por não servirem, são apenas
perpétuos, boçais, toscos e longínquos.
mas nada deixam como lembranças
apenas um esboço tosco de uma sombra
de um corvo quando declina.
A madrugada que os silencia para sempre
(inclusive o clamor advindo do inferno)
se desfaz numa outra manhã de sol.
No Declínio do Olhar Ausente d´amada
II
Na branca margem do caminho das flores,
os pássaros caídos das atingidas sombras
de penas taciturnas e de cartilagem tosca
cuja ausência há em uma forma definida.
Já não nos resta senão a lembrança-fardo,
(de onde cantamos as cantigas aos mortos)
de textura tecida pelos dias já tão idos,
onde carregamos em nós nossos gritos,
de um imóvel naufrágio rumo ao infinito.
III
Não pude ver o teu rosto neste ano,
será que ainda renasce um sol brilhante
que anuncia nele sempre um amanhecer
no fulgor luminoso de teu olho?
No tempo a lua geme seus raios milenares
para os novos observadores que chegam
atingidos de branco desejos de traz de nuvem…
Teço este meus versos para me entreter
sob o domínio da solidão e do medo que me
imobiliza sobre este vão desertos da noite.
Acalanto ao Eleito Coligido
Essência das horas,sumo de minhas entranhas,
será que nasci só para ter ver como visão,
e olho, este horizonte que murcha o futuro,
que para sofrer, prefiro os lábios da morte.
Sendo vento a soprarei. A nuvem parada
nem conhece ou adentra a tua fronte,
por ser a nuvem de gelo e perecivel,
aos raios noturnos são de pratas da lua.
Porém eu sonho-a em mim, sinto o meu vazio,
o badalar seco e forte de um sino de bronze
a desfigurar-se nas asas de uma branca pomba.
Antanha, pois, minhas soturnas horas esvaídas,
se mesclam a minha fronte triste no crepúsculo
deste dia que sempre anoitece no vão da tarde.
Exílado Rios de Babilônia
Para José Adolfo
JUNTO dos rios de Babilônia,
ali nos assentamos e choramos,
quando nos lembramos de Sião.
Vi mascara de um rosto em prantos,
seus olhos olhavam apenas o nada,
tal era a lembrança desta Sião e da
gloria iluminada dos dias de
fervor e de prosperidade.
Ali nos assentamos e choramos,
juntos ao desencanto de dor e fuga
e vimos Sião refletida nos olhos dele
gloria iluminada dos dias de
fervor e de liberdade
das praças e de homens e mulheres.
Junto dos rios de Babilônia,
ali nos assentamos e choramos,
quando nos lembramos de Sião.
Epitáfio para depois da chuva
Para Sara
Escrevo neste instante na flor do meu tédio,
nos hieróglifos cotidianos e indefinidos,
na rispidez dos relâmpagos, na quietude da noite,
no grito que se constrói lento como um ente
nas silhuetas da paisagem
na textura branca de uma lua
neste eu que começo e me arremedo….
Saúdo José Adolfo Fernando Segura Cabezas
Saúdo
José Adolfo Fernando Segura Cabezas,
Doutor do Chile, deste Chile de Allende,
e de um canalha velho Pinochet(Feliz
aquele que pegar em teus filhos e der
com eles nas pedras; e) que Deus tenha
misericórdia para contigo de tua alma
para quando estiveres só no limbo.
Saúdo
José Adolfo Fernando Segura Cabezas,
Doutor do Chile, deste Chile de Neruda
de um homem tecido pelo salitre
irmão de areia e da luz de esmeralda
das árvores de espadas frias feitas de
sombras de uma noite estrelada!
Saúdo
José Adolfo Fernando Segura Cabezas,
Pai de Daniela, e da terra de Cláudio Arrau
do qual Concerto número dois de Brahmas
ecoa sempre em minha memória diária.
Saúdo
José Adolfo Fernando Segura Cabezas,
desta minha Minas construída com sangue
e tortura e traição e de rezas em adornados
altares de ouro a vaidade humana.