Miséria

Erga-se o pano que acoberta a fome
e o cinismo dos ricos faz a festa
enquanto a humanidade se consome
arrastando a miséria,
Rubra besta.
A usura, o banco, a luta financeira,
a bolsa de valores
Quais valores?-
Os das posses, dos mandos, das neuroses,
das jogadas marotas, trapaceiras,
do impudor de mulheres manobradas,
dos olhares que fogem dos horrores?
Das metralhas que calam tantas vozes
dos velhos, dos inválidos, crianças,
que já não sabem mais ter esperanças
e procuram nos lixos da riqueza
e comem dor e bebem mais tristeza,
entre ratos e moscas e baratas
e ainda gratas
rogam a Deus.
Imposto da pobreza ou miséria imposta…
A mesa da política planeja
o campo da estratégia eleitoral:
–“É preciso que a plebe nos eleja
E que nos financie o capital!”
-“Diremos para a massa,
a massa informe-
que a nossa luta é grande, a luta é enorme
e que financiaremos a lavoura
e que a saúde será a nossa meta
e que usaremos firmes a vassoura
criando a honestidade e a vida reta ”
-“Que o judiciário terá juizes castos,
faremos leis e que serão cumpridas
e as falcatruas serão reprimidas,
o povo encontrará nos campos vastos
a paz, a liberdade e mais justiça,
pois seremos heróis nesta batalha
contra esta infâmia e contra esta canalha
que mantém a miséria onde ela exista.
-“Abraçaremos o eleitor carente,
Apertaremos mãos dos operários,
daremos pão a muitos indigentes,
discursaremos para o povo otário
que adora , nos comícios , nosso show;
Prometeremos mais nomeações;
Na palavra que o vento sempre leva,
teremos vitoriosas eleições. ”
E cubra-se o cenário da miséria,
das favelas , do esgoto, das lixeiras,
do deficiente, do despreparado,
dos moribundos na hora derradeira,
na porta do hospital.
Do aborto imundo
no barraco sem água , impregnado
da pestilenta febre puerperal.
Que se ria o poder ante a pobreza
enfeite seus quintais de lindas flores,
levante os muros…pois sei que lhes pesa
ter a visão macabra dos horrores
que terão ao chegar juízo final.