Palavras quando proferidas para o ar perdem o sentir tão belo de quando estão no pensamento assim como ocorre com o amar que se perde no ar quando o desejo sobe a razão e toma a mente deixando-nos confusos e perdidos. O desejo incendiário entre amantes, o fulminante que arde na alma e desperta a fúria dos homens.
Dúvidas passavam pelo meu âmago a correr em volta dos sete cantos da razão e não podia dizer se era sonho ou perdão de alma tão pecadora . O fogo do desejo estava sendo apagado pela mulher que fulminava meu corpo como um turbilhão de paixão, sabia que em outros braços foi repousar e meus beijos não mais eram uma dádiva para ela.
Ela sabia como conseguir o melhor de mim e por isso esperava o pior, despertar o ódio e o anseio do seu corpo ao meu.
Na noite em que ela se foi deixou-me um bilhete que guardei como o mais precioso tesouro do mundo. Mas o tempo passou e o tesouro se transformou em tortura. Não poderia somente despedaçar aquele objeto que me trazia memórias da carne nua a beijar meu corpo e fiz com que ela recebesse o lembrete de sua fuga da minha vida. Talvez fosse o meu modo de agredir ou de pedir outra chance.
Mas não pude conter minha amargura, tinha que ser lembrado por ela durante toda a eternidade do meu amor. Mandei-lhe uma rosa branca, branca como minha alma desarmada. A rosa continha um cartão onde se encontravam os seguintes dizeres .
Amada dos olhos meus
Amargura da vida eterna
Astros do meu amor
Amparando a solidão
Admirando a ternura.
Acho que foi erro, porque a lembrança dos dizeres ecoaram em minha cabeça como o sino da catedral. Catedral eu me tornei . Fechando o meu corpo para vida e abrindo minha alma para a morte a desilusão do existir me tornava cada vez mais forte por fora e frágil no âmago. Não via a hora de confrontar a minha mais nova inimiga. Deveria destrui-la através de meus escritos de minhas rosas do meu amor. E como uma chama que acendia em mim coloquei-me a decifrar o segredo das rosas.
Escolhi a rosa amarela como o fim de manhã podendo lembrar do meu fim de vida e novamente mandei-lhe anexados os meus escritos.
Mulher dos meus sonhos
Musa dos meus perdões
Mancho sua aura
Machuco seus amores
Marco-te com tristeza
Me encho de desprezo.
Não me preocupei com a ação provocada nela porque sabia ao certo o tempo de sua respiração, imagina se não conheceria o efeito que causara em seu coração. Estava repleto de aprazia, mesmo me entregando a noite como um filho apaixonado repetidas vezes meus versos se faziam presentes em minha memória. Possuía a certeza de ser lembrado por ela. Talvez de modo amargurado, mas atrás dessa amargura com certeza havia de Ter o perdão. Não sei se a morte abandonava meus pensamentos mas nunca deixou de ser meu objetivo de vida. Estranho esperar a morte como conclusão da vida mas era a minha vontade e novamente selecionei a mais bela rosa.
Agora a mesma era rosa de cor e de nome. Olhar para a nova rosa era como beijar seu rosto mas quando acariciava a rosa sentia o espinho a rasgar minha pele e lembrava dela a rasgar meus sonhos. Mandei os dizeres:
Olho-te a sorrir
Ocasião de se lembrar
Ostentando um sentir
Orquestrando o viver
Observando o sofrer
Minha vingança chegava ao fim, restava-me apenas maquinar o modo como deixaria a vida para atormentar a minha amada pela eternidade . Sabia que a vida deveria deixar no momento qualquer em que ela não iria me querer e qual o porquê de sentir desprezo se poderia somente me perder e esquecer no vasto mundo da morte e da solidão.
Abandonar a carcaça que me prende a esse mundo podre. Libertar-me-ia de tão inútil viver em que tê-la não iria . E a rosa vermelha veio a tona. Manchada com a cor do meu coração o violino em que se consiste as batidas do maestro da vida anunciava que a conclusão estava por vir e o concerto estava por acabar.
Rainha dos devaneios
Resplandecer de minha alma
Resposta da certeza
Rindo ironicamente da vida
Rezando pela morte
Rapidamente deixo-te
Receber-me-ão no infinito
Arma em punho disposta a acabar com meu sofrer com um simples apertar de gatilho. Notei que não poderia fazer tal atrocidade sem antes reler os meus escritos que deixava para a amada que tanto me fez feliz e tanto me fez sofrer. Estava debruçado sobre os rascunhos dos cartões quando notei as iniciais de cada verso dos pequenos poemas . Percebi que a junção de todas as iniciais de minha curta obra resultavam na palavra amor e coloquei-me a chora. Em prantos abandonei a vida com o revolver a disparar quando na verdade o que eu queria, era novamente viver para esquecer.