– Seu telefone pegou vírus. disse o técnico.
– Ainda bem… pensei que fosse um fenômeno sobrenatural. Como aconteceu isso ?
– Veio pela linha. Provavelmente através de uma ligação a cobrar, recebida numa segunda-feira, alta madrugada. Quando você atende, uma voz feminina anuncia que foi engano. Mas aí, o computador da telefônica já debitou alguns reais em sua conta.
– Que mais?
– Daí por diante, cada vez que alguém retira o telefone do gancho, automaticamente uma ligação interurbana para outro Estado é debitada. Alguma cidade ³tipo² Dragunhennhém. Piores são os outros efeitos…
– Quais?
– Os principais são o pânico e o embotamento mental. Cada pessoa da família reage de maneira diferente: infantilismo e paixão, são os sintomas mais comuns.
– ???
– Aquele que sempre foi avesso à impessoalidade do telefone, passa a adorá-lo, permanecendo horas plugado, compra celular, não desgruda da Internet. O filho que nem ouvia o toque da campainha, passa o dia à volta do aparelho, ansioso por um chamado. Aquela que é ótimo papo pessoalmente não encontra assunto e fica meio esquisita: diz duas palavrinhas e dispara uma risadinha em si bemol, mais duas palavrinhas e outra risadinha sem sentido. O que é expansivo, conversador, amofina-se ao telefone: fala por monossílabos, em inaudíveis cochichos. O espírito de Jó baixa no impaciente, transformando-o: cai a linha, ele disca de novo, calmamente; dá ocupado, ele insiste, insiste, insiste…
– Puxa… cheguei a pensar que estavam tramando a invasão do Canadá! E quanto ao pânico?
– Bem… em pânico ficará o senhor, quando receber a próxima conta!