“Un presidente como tu”
lema da primeira campanha presidencial do então peruano Alberto Fujimori .
Os peruanos podem não gostar desse artigo, um brasileiro falando mal de uma autoridade do seu país, mas agora que o señor Alberto K. Fujimori, assumiu a sua condição de cidadão japonês, e se tornou Fujimori Kenyo san tenho todo direito e o dever de opinar, já que meus pais são de Kyushu e portanto também sou um nihonjim ?! japonês em potencial.
Para completar, tenho parentes morando no subúrbio de Miraflores, onde meu avô tinha uma irmã, já falecida, a minha tia-abuelita Kunigami.
Portanto, no meu caso, os acontecimentos do Peru não são uma coisa tão distante. Quando o meu avô foi passear em Lima em 1975, eu me lembro de uma revolta militar e uma tentativa de golpe contra o presidente Velasco, mais tarde eu recebo as fotos em que meus primos mostravam as faixas da campanha eleitoral de 1980 onde Fernando Belaunde seria presidente. Um outro fiasco. Depois perdi o contato com meus parentes peruanos, mas não me estranharia se eles tivessem apoiado “El Chino” nas três eleiçoes em que ganhou.
Muitas pessoas pensam que o Peru sempre foi um país sem importância, mesmo na America Latina, mas quando Cabral avistou alguns índios nús, com nada a cobrir suas vergonhas, o grande império Inca já era uma nação consolidada de 25 milhões de habitantes que se estendia desde o sul da atual Colômbia, passando pela Bolívia indo até o norte do Chile, tudo interligado por estradas com curva de nível contornando os vales e montanhas e a sua agricultura já era irrigada, e os alimentos desidratados.
Enquanto os silvícolas brasileiros usavam cuias de cabaça e enfeites de penas de pássaros, os incas tinham o domínio da metalurgia do cobre, da prata e do ouro. Conheciam a tecelagem, portanto não andavam pelados como muita gente pensa. Já tinham um sistema de contabilidade para cobrar impostos, coisa que os “nossos” tupi-guaranis nem imaginavam o que seria, já que, segundo as más línguas, só sabiam contar até três.
O sistema político já era sofisticado, mesmo para os dias de hoje. Com um território tão grande para ser controlado, o imperador dependia dos chefes de cada aldeia, os curacas, que tinham os seus representantes, geralmente um filho ou irmão, na corte de Cuzco, a capital do império, o curaca ainda tinha que fornecer uma filha ou irmã ao soberano que a tomaria como esposa secundária, assim todo os povos estavam representados e podiam ser ouvidos pelo imperador.
Mas num amaldiçoado dia, no ano da graça do Senhor de 1532, Juan Francisco Pizarro, munido de uma licença de conquista assinada pelo rei de Espanha Carlos V, 3 caravelas, 180 homens, 30 cavalos, vários mosquetões, canhões e artilharia pesada, desembarca ao norte do império Inca e ordena ao perplexo Imperador Atahualpa que se converta ao cristianismo e aceite o domínio da coroa espanhola. Atahualpa como representante do deus Sol na Terra se recusa a aceitar esse tratado arrogante e conhece de perto a maior tecnologia de destruição que existia na época. Relatos falam que 6 mil guerreiros incas armados de catapultas de pedra, lanças de pau, e escudos de madeira e pano foram dizimados, por uma artilharia de bacamartes e canhões, pisoteados e esquartejados por uma cavalaria de soldados com espadas de aço de Toledo, coisa totalmente desconhecida pelos incrédulos guerreiros incas que marchavam a pé. Uma covardia sem precedente, que somente seria igualada pela compra do Banespa pelos mesmos espanhóis que humilhariam os pobres banqueiros brasileiros, orgulhosos do capital nacional, mas isso é outra estória.
Atahualpa, aprisionado pelo conquistador, teria oferecido 12 toneladas de ouro e prata por sua liberdade, Pizarro aceitou a oferta mas em vez de soltá-lo, mandou executá-lo no garrote, uma espécie de colarinho de ferro com parafuso asfixiante, por crime de adultério e idolatria!
Voltando ao nosso Tsunami (maremoto) que virou marola, não é estranho que Fujimori Kenyo san não queira voltar para o seu antigo país, já que desapontou não só os herdeiros dos Incas, mas também os nisseis peruanos , como os meus primos, que não podem sair nas ruas de Lima sem serem chamados de fujimori fujão.
Aqui eu já entro no terreno da ficção, Atahualpa, assim como fez o Imperador Nero perante o senador Galba, ou o Faraó Tutancamom nos hieroglífos das tumbas, na agonia da morte lenta, teria lançado uma maldição contra os forasteiros, traidores, e usurpadores que tivessem a ousadia de sentar no trono que um dia foi seu. A praga poderia ter sido lançada também por seu primo Tupac Amaru, o último imperador inca, que não por coincidência, dá nome ao grupo terrorista MRTA, que Fujimori san teria liquidado.
Eu não queria estar na pele de Fujimori Kenyo san, como japonês que ele alega ser, o seu fracasso exigiria, segundo o código de honra nipônico, medidas bem mais extremas, já que empresários japoneses legítimos pagam com a própria vida o fracasso de seus negócios.
Talvez essa seja a maldição de Atahualpa, viver eternamente nas trevas, com uma alma indefinida sem rumo e identidade.