A Mulher Que Queria Ter Os Seios Pequenos

(pode-se ler ouvindo “Ordinary World” do Duran Duran)
A primeira vez que vi Alice, ela estava chorando no balcão de um bar. Eu estava nem alegre e nem triste, mesmo com o fato de ter ido a um encontro marcado onde só eu tinha aparecido. Já havia passado mais de meia hora…e eu fiel ao ponto de encontro. Agora, pelo menos, não tinha mais que me impacientar com a espera de alguém que não viria mesmo. Lá estava Alice com seus olhos verdes jorrando lágrimas no canto oposto do balcão que eu sentara.
Ah! A primeira impressão é a que fica! E lá estavam os lábios carnudos de Alice, a pele branca como o leite, o cabelo liso,escuro e comprido emoldurando suas belas bochechas. E o nariz! Carnudo e delicado respirava a atmosfera da sua dor que envolvia toda o bar de tal forma que quando me dei conta, lá estava eu ao lado dela conversando e tratando de entender como é generosa a vida quando nos proporciona um desencontro e um encontro ao mesmo tempo.
Conversamos bastante, nem me lembro o quanto e o tanto que falamos. Sei que roubei uns sorrisos dela que fizeram as lágrimas secarem e nascer um brilho no seu rosto. Ah! Ponto de partida para um coração se apaixonar, bela armadilha para se encantar.
Trocamos telefones e foi quando ela se levantou que vi melhor os lindos seios que ela tinha. E, que lindos!! Redondos, suavemente sobressaltados no dorso magro de seu corpo. Podia-se dizer que eram maiores do que a maioria que se vê pôr ai. Mas eram lindos. Ornavam com tudo o que ela tinha e era. Contra balanceava sua magreza e dava ao andar um ritmo cândido, me entendam, que nem melhores palavras posso encontrar, só ao lembrar, possam traduzir, o impacto que os seios de Alice me promoveram.
Alice era um doce e os seios eram o açúcar.
Ah! Mas o que é a vida?! Dei carona para ela na minha moto e pude sentir aqueles seios quentes e volumosos colados a minha costa. Ah, roubei um beijo dela, descobri que era dançarina mas tinha um sério problema do qual não quis falar muito. Mistério!! Faça isso, me dê mistérios, me seduza!!
O tempo passou como naquela estrada que nem sei mais onde fica, depois do dia que conheci Alice. Tivemos alegres encontros, um pequeno namoro e uma grande discussão, uns cinemas e outros filmes assim. Sempre na minha velha Honda prateada a alegria de sentir os seios se apertando contra as minhas costas. Ah! Foram demasiadamente juvenis aqueles dias!!
Mas a vida é estranha, sempre digo ou ouço isto. Me lembro até hoje de forma amarga da ultima vez que vi Alice. Ah! Como me esquecer? Foi por deboche do destino, no mesmo bar que nos conhecemos e por acaso como nos conhecemos, sem marcar encontro. Desta vez ela sorria e ao me ver entrar no bar me acenou. Estava no mesmo canto onde a vira pela primeira vez com parte do corpo, do ombro para baixo, escondidos por trás do balcão. Fui em sua direção para o abraço, virei a esquina do balcão e me vi diante dela. Paralisei. Alice, a pequena Alice abria os braços e me pedia um. A pequena Alice que eu comparara a um anjo abria seus braços para mim e eu parado me transformara numa estátua de sal. O fogo de Sodoma.
O que foi? Ela perguntou. Seus seios, seus seios!! O que fizestes?! Quase ameacei.
Operei, ela disse me mostrando os dentes mais brancos que antes – tirei 60%! Olha!
Ela disse isso levantando a camiseta para cima e os mostrando ao vento. Deu um salto de alegria e rodopiou por entre as mesas do bar num tipo de pas de deux, se é que eu entendo algo de dança.
Veja!! Agora consigo! Eu consigo fazer qualquer passo sem perder o equilíbrio!!
Meu coração já estava imerso dentro de uma grande lata cheia de gelo. Nem sei como consegui disfarçar a decepção, na verdade, nem sei se disfarcei. Nem me lembro mais se a abracei ou não. Ficaram aqueles olhos verdes sorrindo no meio de uma névoa. Ah! Foi um choque!
Agora quando penso em Alice penso naqueles grandes seios e do que deve ter virado cinza sabe-se lá em que crematório de uma clinica de cirurgia plástica.
Ah que coisa! Lindos olhos verdes, voz de fada diria um poeta lírico, graça de garça diria outro, olhos de lince diriam alguns, corpo de ninfa outro ainda.
E eu enfeitiçado pelos seios daquela que nem os quis.
A vida é estranha, amigos, muito estranha!