Pródigas tetas teutônicas de Virgens douradas por crepúsculos aconchegantes atraem meus extasiados olhares. A delicada e terna mansidão feminina foi só um mito (só?) ou uma postura que se esgotou historicamente? A fofura dos acolchoados e dos edredons, travesseiros altos, luares inesquecíveis, violinistas no telhado, Jerusalém milenar e um Oriente Médio à beira do Apocalipse. Uma Irlanda congelada com os ossos dos seus mortos, pubs superlotados, bocas exalando vapores etílicos e árvores desfolhadas na enluarada noite gemosa de mais um soturno inverno europeu. Nossas gemônias e matagais (ou canaviais) tropicais são os cenários mais comuns da banalização da morte na barbárie em que vivemos. Mulheres com pernas cabeludas e musculosas, ou vaidosas por serem “poposudas” e nada mais, tornam-se cada vez mais numerosas.
Para que tantos músculos e tão poucas idéias, meu Deus? Para que tantos shoppings e tantas vidas deprimidas e de futuro incerto, meu Zeus? (…) Para se mostrarem umas mais altas que as outras, muitas mulheres usam tamancos com saltos plataformas cada vez mais altos. Altura, tamanho ou riqueza não são documentos. Apenas aparências. As essências nunca ficam ostensivas. É difícil entender isso, eu o sei. São tantas coisas que me vêm à cabeça de uma só vez que sistematiza-las ou aprofunda-las seria adulterá-las, sofisticá-las. Ou só ordena-las. E para que fazer isto se as ordenações mais desordenam e nada resolvem? (.) As cachorras tangem os baldes, deles tirando sons de tambores. O tempo não pára. Eu curti a música Odara de Caetano Veloso. O tinhoso me espreita. Gulosos desejam gulosos. Ansiosos romeiros sonham chegar a Roma, certos de que os que têm boca até lá chegam. Era uma vez tudo…. Era uma vez o futuro.
As máquinas de colher soja, desde os anos 40 e 50 do século XX, desempregavam estadunidenses e canadenses. E, agora, às amoras!… Aos vencedores as batalhas e aos perdedores o mais repousante banho para os pés em bacia com louro e água morna e, depois, massagens nos pés com óleo de amêndoas.(…) As maritacas sumiram.
Entraram em processo de extinção ou ainda estão sendo perseguidas pelos mal
humorados? (…) Conheço alguém que acumula suas unhas cortadas, suas cutículas, os pêlos dos seus animais, suas antigas próteses dentárias, os cordões umbilicais dos filhotes da última cria da sua cachorra mais velha, fios de seus cabelos e outras estranhas relíquias em latinhas de cerveja argentina. Cerveza Liberty de Quilmes sem álcool. Ando estonteado com tudo isto. Julgam-me um alienado. Talvez o seja. Mas quem não o seria no mundo que temos? Estranhas manias são formas de afirmação de individualidades e identidades ameaçadas? (…) Mudando de novo de assunto: Píer Paolo Pasolini foi um dos mais brilhantes discípulos de Antonio Gramsci (fundador do Partido Comunista Italiano) e nem por isso deixaram de expulsa-lo desta agremiação política. Entre Pasolini e Gramsci fico com o primeiro. Pasolini esteve mais perto das questões que nos afligem. Especialmente da questão do consumismo.
(…) “Emergência emocional á domicílio (exclusivamente para mulheres). Solidão… perda afetiva… problemas familiares… conflitos conjugais… etc. Agora, para seu maior conforto, nossa Equipe de Psicólogas estará a sua disposição. Solicite informações através de nossa Central de Atendimento. Telefone…” anúncio da página 6 do jornal Prana Rio de Janeiro Ano V número 48 Janeiro de 2001.
Assino a Revista Brasileira de Literatura Cult há alguns anos e, às vezes, tenho a
impressão de que a sua editoria é repetitiva, ou está muito academicamente presa aos escritores já canonizados e legitimados. “Se eu não fizesse ao menos uma loucura por ano, ficaria louco”._ Vicente Huidobro 1893/1948 escritor vanguardista chileno nas páginas 10 e 11 do número 43 da revista Cult.
(…) “Toneladas de caminhões seguem como elefantes em dia de funeral, fila indiana total. Imagino que não tem jeito, não consigo olhar para o lado, óculos escuros em dia nublado e à minha frente vejo estampado Jesus Príncipe da Paz…” _ Marina Cardoso SP devora cidadã bacaninha – página 40 do número 43 da revista Cult ano IV.
No hotel Europa quase todos estão mal acomodados e pressente-se mais medo e horror em novas batalhas, deportações, migrações, discriminações e desgraças. (…) Descobrimos o Sol e, apesar das tecnologias energéticas de baixo custo, cresce o consumo de energia. (…) A ruptura das tradições pode ser uma forma de lealdade renovadora do antigo. Romper desconstruindo, dissecando, reconhecendo e reestruturando o que se esgotava, se dilacerava sem futuro. (…) O Senhor dos Bombons de amêndoas refastela-se em seu trono de cetim lilás.
Há 50 anos, Stalin deportava a maioria dos estonianos. Os massacres da minoria Tutsi em Ruanda não foram suficientemente apresentados e discutidos pelas mídias do fim do século XX. Na Alemanha se vive um crescente e perigoso distanciamento entre arte e política. No Brasil algo similar há muito ocorre: um empobrecedor e medíocre afastamento entre educação e cultura. Muitas vezes o que é heróico pode estar sendo também anacrônico. Atordoa-me esta possibilidade. “A arte é algo elitista” Boris Groys professor de Filosofia e Teoria dos Meios de Comunicação na Escola Superior de Desenho de Karlsruhe Alemanha na página 56 do número 130 da revista alemã Humboldt ano 42 edição em língua espanhola. No Inferno de Dante Alighieri, mostram as pinturas de Sandro Botticelli, também foram lançados os que cometeram violências contra Deus, contra a natureza e a sociedade.
Tudo tem a ver com tudo. Goethe já dizia: somos partes do que no início formava um todo. Este difícil quebra-cabeça epistemológico, inicialmente desconexo ou surreal, é evitado pelos que exigem respostas prontas (e impensadas) para serem logo aprovados no vestibular e na sociedade cada vez mais competitiva em que vivemos. Alice enganou-se: ela não vivia no país das maravilhas.
Nossa pobreza é social, é econômica, é cada vez mais política porque culturalmente fomos reduzidos a mais medíocre e vergonhosa das indigências: à condição de massa, de galera, de seres sem identidades e sem projetos de vida autênticos e ousados. Viramos simples e pobres Maria vai com as outras. Não sabemos o que queremos (nem como indivíduos nem como sociedade) e só fumávamos aquele cigarro cuja propaganda alardeava ser o preferido dos homens que sabem o que querem.