Bebidamaquiada

Há mais ou menos dez dias, o telefone tocou lá pelas 23:00h. Era um velho amigo de infância que há muito não nos conversávamos (Confesso que sempre desviei de passar por onde ele estava, quando embriagado). Durante 10 longos anos ele esteve dominado pelo álcool. Apercebi que ele estava empolgado em dar-me a notícia de sua recuperação (a libertação) do malvado vício. Disse ele, que sabia o que sempre ingeriu, mas nunca teve forças para passar ao menos três dias sem ficar de pileque. Fez o seguinte comentário:
Acotovelar nos balcões de botequins é sinal que as coisas estão de mal a pior; e mais, se o infeliz soubesse o lixo de bebida que está consumindo, ele ficaria de ressaca até sem beber. Álcool metílico (metanol = CH3OH.), iodo (iodo = I) e água oxigenada são adicionados às bebidas; e no dia seguinte o infeliz tem uma ressaca dupla a cada cana propriamente dita e a da mistura. O cara tem vontade de morrer.
Eu cheguei ingerir álcool etílico hidratado a 92,8º. Naquela tarde me hospitalizaram, não morri porque pra tudo há um dia determinado pelo Ser Supremo que nos governa. Durante quatro dias permaneci evacuando sangue. Saindo de lá, fiz um firme propósito: deixar a bebida. Eu consegui _ Comentou ele.
– Certa vez, um cara enlouqueceu em plena madrugada, enfiou os trapos na mala e se arrancou definitivamente, abandonou mulher e filhos; seu mundo desabou; restando somente a sarjeta para tirar suas sonecas; vive a perambular de boteco em boteco babando feito cachorro louco. Claro que o trampo dele também foi pro espaço.
Essas misturas atacam o fígado, mais que um soco do Popó, dão uma hepatite tóxica de arrebentar para sempre. Com certeza o cara nunca mais irá prestar pra nada. O álcool metílico pode causar cegueira, lesões cerebrais, ataca o coração, levando à morte; sem falar que o cara perde até a potência sexual. Estou falando com experiência própria. Pra eu restaram como herança: a lesão do coração, a impotência e o trabalho que foi pro espaço.
Ah, durante a lei seca nos Estados Unidos (USA) os gangsteres batizavam o whisky clandestino com o álcool metílico e milhares de alcoólatras ficaram cegos, isso a gente vê até nos filmes…
Até o governo sabe disso, mas não providencia nada; a existência das dezenas de produtores de fundo de quintal espalhados por todo esse Brasil de meu Deus. Destilam mal a bebida, sem as especificações exigidas por lei, sem ao menos o acompanhamento de um técnico qualificado, claro! Falsificam rótulos e marcas. Distribuem o veneno em galões de cinco, dez, vinte a cinqüenta litros. E não é só para os botecos das esquinas; entre num restaurante ou numa boate, lá embaixo do balcão ou em algum lugar do recinto, há uma incerta. Com certeza você vai encontrar um galão do veneno.