Capítulos da Coisa Incorpórea – Parte I

princípio
o amor dá-me um rumor de martírio e esplendor e com essas palavras a carne líquida Te deleita sobre um corpo em mim de retalhos
espero tocar-Te lépida ilusão quando és o sacrifício da planície dentro de nenhum abismo e Te adoto barulho de fantasia
ou o quanto vale de amálgama entre o silêncio íntimo de vértebras pois seio em mim infeliz nunca Te tenho como água na garganta

és meu pesadelo fruto de um paraíso desencantado ou assim seria a morte roubando açúcares de asas em liberdade
para Te amar soprei um hálito de pinho e restaurei o segredo dos dedos ao Te tocar a carne (se o silêncio é uma carne de nada) a morte me distraiu com palavras de nenhuma vida – sílabas ofídicas como cristais do inferno
primeira confirmação
há horas de nascer nesse tempo parido de veneno ensapando novos destinos… Dizes a vida é sempre eterna a meu Deus sem passaporte, ao tímido que nunca vês.
e ele Te responde só vida não é a eternidade e Te espanca com a renúncia de ser descoberto. A hora Te traspassa. Piolhos de máquinas obsoletas. Tu Te manifestas…
a cara de soluço de um anjo tingido pelo hábito das palavras. Ainda não és quem pode morrer. E resistes ao entardecer.
Te escondes dentro de nosso Deus. Uma fúria sagrada arte em Teu ventre. Almas violadas somos o esboço da mentira divina.
segunda confirmação
eis o exemplo: a escolha dos homens primeiros, uma leviana tentação. Qual de nós retém a certeza ao extrair pérolas da impiedosa filosofia? Uma negra virtude das entranhas…
existem uns seios à mostra ante o nosso Deus que há em cada um, e ele não participa da nossa sensação, ou o que venera é tão sublime que impossível é a carne.
amar é uma cerimônia parecida com a gula ou a vergonha de extrair cinzas das labaredas de um amanhecer.
de concreto, a saliva das línguas é um perdão tardio de nosso desejo – o princípio do prazer desnudado das sombras…