Meus senhores, estou cansada.
Acabo agora de chegar à boca de cena e não venho representar, não faço parte da peça.
Venho contar-vos da vida, do que se passa lá fora numa outra trajectória onde uma outra geração está em busca de compreensão.
Por favor, oiçam-me senhores.
Está lá fora uma nova geração a que não destes a mão. A que chamastes rasca. Uma geração sem valores? Provavelmente. Rasca? Certamente. Mas quem a educou?
Quem construiu este mundo materialista e desumanitário, nada gregário, até um pouco ordinário?
Meus senhores, estou cansada. O ponto faz-me sinais, o contra-regra insulta-me mas eu tenho de aproveitar ter conseguido chegar à boca de cena.
Meus senhores, onde estão os valores? quais os que ensinámos em casa e na escola? os que praticamos na nossa sociedade, os que transmitimos na nossa verdade?
Meus senhores, onde estão os projectos espirituais, intelectuais? Só vejomaterialismo e tantos, tantos ismos que já ninguém se entende… um verdadeiro cataclismo!
Senhor, não me empurre… A peça já vai começar… deixe-me dizer… por favor… também o cenarista?… porque não o director?
Senhores, estais a assistir ao teatro dos costumes… quando alguém foge à regra é empurrado à estalada, a pontapé, numa enxurrada de insultos (pouco cultos!)… numa violação dos direitos individuais…
Senho… reeeeeeeeeeeeeessssssssss… pensai no que vos disse, não é nenhuma tolice… porra, deixem-me… eu saio pelo meu pé…
Meus senhores, que a peça vos faça bom proveito, que seja bem ao vosso jeito e com muitos, muitos trejeitos ficai-vos no vosso doce respeito…
Eu saio… já voooooooooooooouuuuuuuuuuuuuuuuuuuuuuu…