Abri uma revista, assim que meu avião decolou. E, de repente, passei a ler uma crônica sobre uma rosa. Encantado com o que lia, não me dava conta de que, naquele instante, eu caminhava sobre as nuvens! Na primeira turbulência, tremi, e interrompi a leitura. Pela minha janela, constatei que não eram nuvens espessas, impenetráveis, escuras, zangadas. Eram nuvens branquinhas, algumas transparentes, esparsas, independentes, alegres. Eram nuvens nordestinas… Mais tranqüilo, voltei à revista. Eu voava entre Fortaleza e Salvador, numa manhã de resplandecente verão.
Se meus amigos, por acaso, lerem estes rabiscos, não acreditarão no que estou dizendo. E, perplexos, perguntarão: “Como? Lendo durante o vôo? Não…” Eles não sabem que evolui. Hoje, até as guloseimas servidas a bordo, não as recuso, como acontecia até bem pouco tempo. Houve época em que, nas minhas viagens aéreas, eu, simplesmente, tomava um porre. Ingeria respeitáveis doses de uísque. Pouco se me dava fosse o vôo diurno, ou noturno. Tudo valia para mandar o medo de voar pras profundezas dos infernos. Quantas vezes pensei em desistir da viagem na hora do chek-in…
Não me considero ainda um passageiro exemplar. Mas já não entro em pânico quando as portas do avião são fechadas. Entretanto, continuo achando que meu amigo João Carlos Teixeira Gomes, lúcido jornalista baiano, está certo ao garantir que “todo homem se julga imortal – até entrar num avião”.
Como eu dizia acima, depois da decolagem, abri uma revista, e passei a ler uma crônica sobre uma rosa. Um parêntese: tudo que li, até hoje, sobre rosas, me deixou feliz da cabeça aos pés. Apenas uma rosa me fez chorar: a rosa de Hiroshima. Em compensação, exulto quando me falam sobre a rosa-de-Jericó. Dizem que ela “renasce depois de murcha”; e – incrível! – vegeta em alagadiços.
A crônica do avião, assinada por um passageiro importante, falava de uma rosa que ele encontrou, no toalete de uma aeronave. Fora ali colocada, segundo o cronista, “por mãos desconhecidas”. E assim ele a descreveu: “Era uma rosa branca, aberta, fresca, bem cuidada e sobretudo bonita, que estava ali com a única função de dar um toque feminino de carinho, graça e elegância ao avião”.
Na simplicidade de seu estilo, o passageiro registrou, numa pequena crônica, seu inesperado encontro com uma rosa em pleno vôo. Podia ter escrito um soneto, um poema, um verso. Mas preferiu a p-rosa. E, com isso, prestava mais uma homenagem à rosa, que o saudoso jornalista Carlos Lacerda certa feita disse ser a “imagem do eterno feminino, forma feita de perfumes, de matizes evanescentes e ondulantes recortes.”
“Uma rosa no avião”, neste momento, deve estar sendo lida por centenas de pessoas que, voando por estes céus de meu Deus, abriram, por acaso, aquela revistinha de bordo, que resolvi guardar como souvenir.
Nos toaletes dos aviões, que a gente encontre sempre e sempre uma rosa… uma flor… uma rosa… “bem cuidada e sobretudo bonita”. E nunca uma traiçoeira ponta de cigarro, ou uma bomba facínora, terrorista, sacana…