Ou: Isto não é uma resenha de “Saraminda” de José Sarney.
Ora, eu sou Tricolor, Macumbeiro e Comunista (não necessariamente nesta ordem) e, tendo telhado de vidro, não falo mal de ninguém! Mas, quase sempre digo o que gosto e o que não gosto, sendo que, para isso acontecer eu preciso ter o conhecimento da coisa, saber, ler, ver ou ouvir. Quando começaram a falar mal do livro “Marimbondos de fogo”, eu me calei, não conhecia, não tinha lido, não podia falar, nem bem nem mal. Não consegui ler o livro, não me lembro bem porque, e, consequentemente não falei abacate sobre o danado!
Agora, tempos depois dos Marimbondos e de sei lá mais quantos outros livros, eis que me deparo com “Saraminda”, traduzido muitas línguas e premiado mundo a fora. Ganhei a danada e, cupim que sou, tasquei a ler; o que achei e o que não achei, vai a seguir:
Uél, antes de mais nada é preciso não confundir o criador com a criatura, o autor com suaobra o Zé Sarney ex-presidente e senador, com o Zé Sarney escritor e membro lá da Academia Brasileira de Letras. Isto posto, sem dizer o que penso sobre o danado do Zé, tasco a falar do seu livro. Com vocês, Saraminda!
Não dá pra falar mal do Zé na parte de pesquisa histórica, ele situa os fatos em lugares e datas recheados de informações com uma aura de verdade que traz até o leitor o cheiro da mata, do garimpo, das cidades fronteiriças e dos personagens. Os protagonistas da história são bem descritos e suas vidas bem amarradas. São personagens sempre bem peculiares e seu pecado maior é deixá-los ir embora sem trabalhar mais do que apenas a pequena aventura que nos é contada.
A narrativa é feita quase como num bom livro de realismo fantástico mortos conversam, animais raciocinam, o garimpo pede sangue e por ai vai a história que quase sempre toca no quase. Quase é a palavra para este livro ele no fundo é quase bom, os personagens são quase também e a história como um todo é quase, mas quase ótima.
É impressionante a forma com que o Zé trata o romance. Ele trabalha como quem domina a arte de narrar; o vai e volta de personagens falando e agindo, sem que se consiga numa primeira vista definir quem fala, cria um clima de mistério e suspense.
É difícil ler assim como quem lê um romancezinho. Saraminda é muito mais do que isso; é um livro denso sem conteúdo, é forte sem forçar barras, é sensual sem ser explícito, mas é chato querendo ser ótimo.
É muito boa a construção da personagem central Saraminda negra, com os bicos dos seios amarelos, sensual e altamente sexualizada, pobre e explorada, ambiciosa, com um quê de safada, pitadas de ingenuidade, fartas doses de uma atávica ignorância, um corpo fabuloso, cheiros misteriosos, cabelos de bicho, pele de seda e uma triste fome nunca satisfeita, de sexo e de amor.
Saraminda, a personagem, por seu jeitão e principalmente por sua maneira de viver, deixa, não saudade, mas a certeza de que foi um personagem quase bom.
Saraminda, o livro, deixa no ar uma vontade de ler mais, de saber mais sobre a vida nas bordas das Guianas, nos garimpos, nos Brasis escondidos, selvagens, desconhecidos e violentos.
Agora, se me perguntarem: Afinal você gostou ou não? Saraminda é ou não um bom livro?
Você recomenda ou não? Eu direi:
Poder ler livros é a melhor coisa da vida é o melhor divertimento, a melhor forma de se adquirir cultura, de viajar, de conhecer pessoas, lugares, enfim, ler é o melhor remédio, seja um clássico, um romancezinho ou mesmo esse premiado livro do Zé Sarney, que pelo menos pra mim serviu para poder escrever esse arrazoado para vocês!