É uma dádiva a diversidade cultural do Brasil, formada pela confluência das inúmeras tendências aqui abrigadas. Mas tem seus desconfortos: a malandragem, a ³esperteza², o jeitinho. Outro, é tudo relevar, deixar pra lá, a ³carnavalizar², a banalizar até a vida. Mesmo a vida, esmagada pela violência desenfreada, solta diante de um Estado impotente, incapaz, paralisado, amorfo. Até Cristo —Deus me perdoe a irreverência— é ³folclorizado² como figurinha de comércio, negociada em dezenas de seitas que nada têm de cristãs.
Típico é o episódio da ³vaca-louca². Bola de neve, pode provocar um desmanche do nosso frágil comércio internacional, pelas implicações advindas e pelos tratados entre os países, principalmente os da América do Norte. É uma guerra, imprevisível como todas, em que perdemos a primeira batalha, com o prejuízo dado aos criadores nacionais.
Todavia, alguns setores da comunicação social ³folclorizaram² o incidente. A TV divulgou, como piada, que a missão canadense que nos visitou foi alimentada com a sadia carne do gado nacional; que viajou nos aviões da Embraer. E muitos acharam uma graça e se torceram em risadas. Como somos ³espertos²… espertos e ferrados! Até nosso competente e revoltado ministro Pratini de Morais passou a usar gravatas com imagens de vacas. Num dia chirolesas, no outro jérseis, lembrando as infelizes camisetas do senhor Collor. Grupos nordestinos entoram cantigas de desaforo ao Canadá. E não se admire se os indefectíveis baianos inventarem novos ritmos e canções e venderem milhares de discos –bons de comércio que são.
Será por isso que ainda passamos aquela imagem extravagante da falsa baiana, coberta de penduricalhos, sob um imenso chapéu de bananas? Ou será porque aqui é sempre Carnaval?