Geração “New Wave”

Vejo meu álbum de fotografias:
Mas que coisa, lá se vão os anos! Eu, geração “New Wave”, cabelos cheios de brilho cor-de-rosa, lilás, amarelo e azul. O nosso primeiro baile! Um baile de máscaras na casa da Teresa Cristina, ou Tinha, como chamávamos. Um baile de máscaras, puxa vida!
Algo fica martelando minha cabeça: lembra, lembra, LEMBRA??? Lembro. De muitas coisas esqueci, mas nunca deixei para trás as sensações. Sensações são o maior presente que recebemos, um certo friozinho assim na barriga…
Lembro das lombadas dos carreadores e a gente: “corre, pai, corre pra gente sentir coceguinha na barriga”…”uuuuuuiiiiiiihhhhhhh”. Lembro do ônibus estacionando no piquenique: “olha gente, o ônibus fazendo xixi!”
Daquela dança e eu, de saia e bustiê (eu usava bustiê!) verde bandeira.
Saias”ballonets”, que chique!
Sabrina pequena em meu colo: uma criança e outra criança. Vestido de rococó, carnaval e Luci me levando ao clube. “Vó, dá dinheiro pra gente comprar doce?” “Pra que serve esse filtrinho aqui, vô?” “Du, vamos tomar uma sprite?” O pior foi chegar na lanchonete e falar: “Quero uma sprite”, dita assim mesmo, como se escreve.
“Vamos jogar Atari?” A mãe da Flávia ensinando o que era tumulto no aniversário de balão e bolo de chocolate e brigadeiro. A caixinha de música e a colcha que a avó deu.
Biquinis e baurus no clube… piscininha não tinha graça, piscina grande era melhor! Bóia, balanço, gangorra.
Anderson dizendo que não gostava do Popeye. Eu gostava, e tinha paixão pelos Smurfs:
“la-la-lalalala-la-lala-lala”. O espelho mágico… meu irmão tinha medo de bruxa, da rainha em Branca de Neve:
“Ah, aqui está, a maçã envenenada!” E tinha João e Maria: “vem Mariazinha, vem, veja só que lindo dia, que alegria, que alegria!”
Sorvetes cobertos com caramelo… hummm… pizza no Califórnia! Patins!!!, eu levava cada tombo! Bicicleta, Barbies. Os irmãos da Patrícia não deixaram a gente assistir “Lagoa Azul”, era impróprio para nossa idade… mas por quê, por quê?
Penteados assim e assado, vaidade aflorando. Presente no aniversário da professora e uma carta escrita com o nome do remetente no lugar do do destinatário…
Daniele chorando de medo quando ficamos presos na sala, amigo invisível no fim do ano. Teatro, teste de canto e cadeiras desconfortavelmente confortáveis. Um chapéu e óculos escuros, menina metida eu era.
Minha mãe viajando e minhas latas de Quick na casa da Susana. Eu só gostava de Quick de morango…
ahahahahah!!!!… mas a Susana “comia” todo o meu Quick… ahahahahaha!!!!
Francine dizendo que o Zeca tinha cara de bicha, Janaina olhando por cima do muro, mangas que eu não aceitei, a brasília do doutor Cristiano!
Os gibis que troquei e me arrependi: “fui roubada!”, o louco Curiúva assustando as crianças, o circo e seus palhaços e mágicos, o concurso da boneca mais bonita. Emprestei uma para a Lilian e levei outra. Ganhou a da Lilian, ai, que raiva!!!
Os dedos do meu irmão presos na porta: “quem mandou ele querer entrar no meu quarto?”, abajur à noite, Léo vendo um pedaço de pudim na geladeira: “din-din, eu quero comer pudim.”, a bicicleta na despensa e a bronca porque eu esfregava o guidom na cômoda.
Aulas de violão e a completa falta de vontade, a lavadeira e o filho meio bobo que ia junto, minha primeira bola de vôlei! Sacada de casa, varanda, árvore plantada por minha mãe, a vez em que peguei piolhos: “ai, vai devagar, tá arrancando meu cabelo!”
Os gomos pequenos de tangerina deixados no muro para os anjinhos virem buscar, os óculos da Eliane que quebrei, minha mãe fazendo meu irmão dormir…
Aquela planta que chamávamos “bananeira de macaco”, a falta d¹água uma vez e o poço do senhor João.
A avó passando uns dias com a gente, a vez que fiquei doente e quase morri.
Eu mostrando os cadernos para as visitas: “lembra quando você veio aqui da outra vez? Eu tava na lição do tomate, agora tô na da xícara,” a “Corrida Maluca” e eu torcendo pra Penélope, umas cintadas que merecidamente levei…
Daisy e a mesada gasta em chocolates, a garagem de casa, estradas de terra e lama, corda e amarelinha e a “dança das caveiras”: “quando o relógio bate às cinco, todas as caveiras põem o brinco…”
Nota dez na escola, quando tirava nove chorava. Alana que caiu da árvore, Flávio que quebrou os dois braços de uma só vez, Cleverson tendo convulsões na sala de aula. Quadrilha e um vestido amarelinho de estampa colorida, de muitos babados e da cor das bandeirolas.
Desfile de sete de setembro e eu de baliza: fantasia feia, achei. Lanches no supermercado, brindes-surpresa, Menudos e o aiaiai das meninas um pouco mais velhas, álbuns de figurinhas, Pantera Cor-de-Rosa…
Ai, quanta saudade desse tempo! Tanta coisa que passei sem saber que estava passando… imagens ofuscadas são o que acabam sobrando. Lembro da morte de Tancredo e Antônio Brito com voz firme: “FALECEU ESTA NOITE…”. Fui chorar no quarto, mas nem sabia porque estava chorando. Chorava, e só. Alguém morreu, eu pensava…
… e acabava voltando lá pro meu Sítio do Picapau Amarelo:
“thuruthuthuthuru… thururuthuthuru”…