Janete

Terra Nostra é destas novelas que ninguém vê, mas todos vêem. Confesso que já fui mais noveleiro, embora não lembre da última novela que assisti, ou pelo menos acompanhei o final. Talvez O Rei do Gado. A primeira parte foi realmente ótima, deixando esta Terra Nostra muito longe, a despeito do esforço de produção.
Não sei muito sobre esta Terra Nostra. Sei que há muitos imigrantes italianos, que ao contrário dos descendentes que conheci em Caxias do Sul, não falam palavrões, nem os insinuam. Devem ser imigrantes muito educados. Nem ao menos um “porco cane”, pra não falar em outras expressões comuns que não passariam pelo crivo da igreja. Quem vive ou viveu por lá sabe do que estou falando. Não reproduzo aqui por pudor e medo da polícia. O máximo que conseguem é um “cáspita”, se é que isto é o que se chama de palavrão. Sei que há muitos filhos, pais, maridos e esposas trocados, como no poema de Drumond. Ao que tudo indica, pelo menos no que se refere aos filhos uma boa parte da confusão se deve à atuação de uma tal Janete, tão má quanto bonita, mesmo em presença destas neo italianinhas. Ela é a vilã.
Para minha completa surpresa esta tal Janete resolveu envolver-se com o cocheiro e já tem mais de vinte capítulos em que ela fica no vai não vai, dá, não dá. Não é propriamente uma indecisão dela. Na verdade, dependesse de Janete ela já tinha fugido para a Europa com o cocheiro. Contudo, há que enrolar, como é próprio das novelas. Este é um caso em que o autor fica segurando a personagem, não permite seu desenvolvimento natural.
Parece que ontem Janete deixou-se beijar (esta é boa) por Josué, o cocheiro. Contudo, confesso que não sei se deu tempo de ir até o quarto dele como combinado. Imagino que não. Perguntei à Cenira, minha consultora, e ela informou que ainda não. Nem poderia. O beijo de ontem e a combinação do encontro futuro já foram demais para um único capítulo. A visita noturna fica para outro dia, quem sabe hoje. Você pode assistir ou ligar amanhã para a Cenira. Ela está pensando em montar um serviço telefônico. Você liga e fica sabendo se a Janete foi ou não foi e como o capítulo terminou. A cobrança é feita na conta telefônica.
Difícil a situação das Janetes daquela época. Os homens podiam montar suas “garçonieres”, ninhos para o amor clandestino. As senhoras tinham dificuldade maior, mesmo as desimpedidas e endinheiradas como Janete. Em casa, há a fiscalização constante da governanta que imagino, deve igualmente cobiçar o cocheiro abençoado. Pior censura faz ela própria achando-se valiosa demais para entregar-se a um cocheiro.
Felizmente, hoje o patrulhamento é bem menor. É tarde, já não se encontram cocheiros de fraque com muita facilidade.