Eu, Júlia e Juquinha

Que saudades daquele tempo!!!!!
Recordo nitidamente, quando em minha adolescência namorei a filha do vizinho. Júlia era o nome dela.
Bonita, simpática, carinhosa, ora se revoltava com as insistentes cartinhas que eu enviava pra ela.
Na realidade eram bilhetes, mas, eu fazia questão de envelopar e pedir pro Juquinha seu irmão, entregar.
Coragem de entregar todas as vezes, eu não tinha.
Eram três ou quatro por semana.
Claro que enjoa qualquer ser humano: Receber mensagens banais e de uma mesma pessoa. (Ao receberem as minhas e achar que as medidas encheu, façam o mesmo).
Mas era a paixão que eu tinha por ela, me fazia cego a ponto de não enxergar que estava causando desconforto pra menina.
Minhas cartinhas não passavam de duas a quatro linhas. Todas quase que cópia uma da outra. Estas expressões eu não deixava de fora de cada carta: “Júlia, eu amo você ! Como eu gosto de você Júlia! Você também gosta de mim ?”
( Qualquer um(a) fica de saco cheio com certeza) !
Juquinha, o irmão dela, era nosso correio.
Eu estava com 15 anos de idade. (Idade crítica mesmo. Reconheço).
Uma idade que o adolescente sonha acordado.
Juquinha com 12 e Júlia 14 anos.
Juquinha, era muito meu amigo, até hoje moramos distantes um do outro, mas somos bons amigos.
Tudo começou quando numa festinha de aniversário eu encontrei Júlia pela primeira vez.
Conversamos um pouquinho, logo perguntei se ela queria ser minha namorada.
A resposta foi afirmativa.
Quase morri de tanta alegria.
Chegando em casa todo feliz, muito sorridente. Mamãe cismou que pra mim, o mar estava pra peixe naquele dia.
– Posso saber o motivo dessa alegria toda ? Mãe não se engana.
– Claro ! mamãe. Claro…..
Mas cadê coragem de contar ?!
Fiquei: “É que… é… sabe ? … eu… ah ! nem sei se conto.
Me enrosquei todo, sem saber por onde começava a coisa.
Mãe, é sempre mãe !!! Não temos duas, né ?
Mediante o meu descontrole, disse ela que eu contasse outra hora. Que alívio ! deixar pra contar outra hora.
Fiquei em volta de minha mãe, oferecendo pra fazer algumas tarefas, e alisando o braço dela num gesto de afago.
Ela me olhou com semblante sorridente e disse:
“- Tem mosca nesta sopa. Deve estar tramando alguma coisa!!!”
Criei coragem e contei.
– Sabe, mamãe. Eu estou feliz porque agora eu tenho uma namorada.
– O quê ????
– Como ousa falar uma coisa desta ? Mal saiu das fraldas ?! Quem é sua namorada ?
– Não, mamãe. Eu sei que sou criança ainda pra namorar, mas Júlia simpatizou-me com uns olhares meigos e acabei pedindo ela em namoro.
– Júlia não sabe que dor de cabeça arrumou. Você só dá trabalho, filho.
Mas, mamãe dizia isto em tom de brincadeira. Ela me amava muito e queria sempre me ver feliz.
Entre 11 irmãos, somente dois homens e eu era o caçula. Façam uma idéia.
– Tá bem ! Mas eu não quero saber que você fique aborrecendo os pais de Júlia. Tome muito cuidado, porque isto é paixão. Paixão é cega e passageira. Se fosse amor, seria para sempre, mas paixão passa rápido.
– Sim, eu não vou ficar indo na casa dela, porque afinal de contas dizem que o pai dela é bravo. E de gente brava eu tenho medo.
– Que nada ! filho. Bravo é cachorro.
Sim, voltando a falar nas cartinhas: Eu escrevia, ora entregava pro Juquinha, ora eu ficava no caminho por onde Júlia vinha da escola, entregava e ia embora.
Quando foi um dia, a menina achou um exagero eu entregar muitas cartas por semana, e todas quase cópia uma da outra.
Mas eu só sabia que precisava afirmar que eu gostava dela.
Engraçado ! no dia em que ela enjoou de receber sempre a mesma coisa escrita, disse-me:
– Olha ! é bom a gente pôr um fim nisto, antes que eu acabo contando pro meu pai. Daí você ficará em maus lençóis.
Ironicamente eu disse:
– É ! hum….!!!! Capaz de acontecer algo… !!!!
Júlia, agora estou sério:
– Eu amo você !!!!!!
– Eu também gosto de você, só como amigo.
Namorar não quero mais.
– Ah ! Júlia, não faça isto comigo ! Se você desistir de mim, eu pulo na represa. – Pula tarde! – disse ela.
Juquinha foi quem deu uma força pra mim.
Porque eu fiquei arrasado.
– Não, Romeu. Júlia é assim mesmo. Cada tempo ela está com um namorado diferente. É menina namoradeira mesmo.
Mas nossa amizade continua, afinal de contas eu sou seu amigo.
– Juquinha, o meu medo é que ela tenha inventado coisas pra contar a seus pais.
– Nem pense isto, ela não tá louca !
– Se inventar coisas de você, eu saio em sua defesa.
Abracei Juquinha e disse:
– Você, sim, é meu amigo !
Chorei um pouquinho, aliás, eu sou chorão mesmo.
Difícil foi eu contar pra minha mãe que havia desistido de Júlia.
Ou melhor, ela desistido de mim.
Mas criei coragem e contei.
Mamãe falou :
– Eu sabia, não falei pra você tomar cuidado ?! Espero que não tenha aprontado com Júlia.
-Ê ! Mamãe. Aprontar, eu hein ?!
– Não boto a mão no fogo sobre o comportamento de quem está na sua idade.
– Mamãe, do que a senhora está falando ?
-Esquece !
Gente, lembrar este tempo de tanta imaginação e sonhos, dá uma saudade!!!
Não, saudades de Júlia, mas das bobagens que cometi.
Júlia cresceu, casou, teve muitos filhos, reside muito distante de mim, vive a vida dela.
Eu também cresci, não casei, vivo minha vida, filho ? Não tenho.