Um dia frio, chuvoso, eu caminhava por uma rua da cidade de São Paulo, indo tomar o metrô no Jabaquara. Embarquei no trem que ia pra Sé. Quão grande a minha surpresa ao embarcar, lá estava o Juquinha do interior. Colega de infância, que juntos fomos criados com os mesmos usos e costumes da roça.
Havia muito tempo que eu não o via. Ao me avistar, conhecendo, fez sinal para que eu me assentasse junto dele. Conversamos bastante, falando do passado e ele ainda continuava morando no interior; um cidadão do campo, quase sem estudos, mas muito bacana, firme em seus propósitos. Embora com situação financeira não das piores, mas sempre caboclo do campo com seu traje e sotaque interiorano. Perguntei o que ele fazia por aqui, com aquela respiração ofegante. Respondeu-me que estava a tratamento de sua saúde que não passava por uma boa fase; e onde morava não havia tratamento pro seu caso – estava com problema nos pulmões.
Ao chegar na estação da Sé, tive que saltar do trem, meu destino era Barra Funda. E Juquinha continuou sua viagem com destino ao terminal Rodoviário do Tietê. Ele forçava ou melhor, por um instante, continuou a me olhar pela vidraça . Até que o trem partiu e Juquinha acenando com a mão, a despedida. Eu também continuei olhando-o enquanto o campo de visão nos permitiu.
Parei um pouco e fiquei pensando: “Ali, fechado dentro daquele trem viaja uma pessoa muito importante pra mim, com quem convivi um pedacinho do meu passado. Juntos fomos criados com os mesmos usos e costumes. Estudamos na mesma escolinha, e às tardes saíamos para darmos uma volta na vizinhança. Hoje eu vivo na cidade grande, uma vida tão agitada, um corre – corre do dia a dia, convivendo com as circunstâncias que a vida me oferece”.
Juquinha ainda vive lá nos rincões brasileiros, aquele saudoso sertão. Hoje só vivo de recordações daquele tempo que eu vivi por lá.
Mas assim é vida de cada um. Um pra um lado, outro pra outro e com o passar do tempo nós envelhecemos e tudo desaparecerá. Realmente o tempo se encarregará disso.
Juquinha lá no sertão e eu aqui na cidade, mas todos com um mesmo propósito: “Enquanto houver vida, viveremos.”
Tenho saudades do tempo da minha infância, um tempo tão cheio de esperanças, muita fantasia na cabeça. Ah! que tempo bom, que jamais voltará.
Recordo nitidamente do Entardecer na roça, que é tão lindo! O sol avermelhado vai sumindo como um viajor, bem devagarzinho desaparece lá detrás das montanhas. Eu às vezes ficava olhando aquele espetáculo chamado natureza ( criação das mãos de Deus), até o seu total desaparecimento.
Os pássaros em revoadas cortando os céus de um lado para o outro, à procura do repouso noturno.
O horizonte límpido, de uma beleza esplendorosa, quase indescritível.
É o fim da tarde.
Um vento frio sopra do Sul para o Norte, folhas secas em grande quantia rolam pelo chão. E a noite vem chegando.
Lá, ninguém vai pra cama muito tarde, o mais tardar entre 21 e 22 horas.
Silenciam os pássaros do dia, não se ouvem mais ruídos de carroças, apenas de vez em quando ouve-se o mugir de uma vaca com saudade do seu bezerro, o latido de um cachorro e o alvoroçar das corujas, dos caburés, dos curiangos, que são as aves noturnas lá do sertão.