O admirável cientista francês, Charles Richet, ganhador do Prêmio Nobel, asseverava que tudo aquilo que é inverossímil em uma época, é completamente verossímil em outra.
Se fizermos um histórico dos acontecimentos ao longo dos anos, verificaremos que ele estava coberto de razão.
Quando os primeiros grandes descobridores buscavam apoio financeiro e pessoal para se aventurar junto com eles, nos grandes mares à procura de outras terras, eram chamados de loucos.
E só conseguiam marinheiros entre os prisioneiros condenados à morte porque todos acreditavam que ao fim da linha do horizonte os navios despencariam e morreriam todos.
O grande cientista Galileu Galilei foi condenado porque ousou mostrar que o resultado de seus estudos indicavam que era a Terra que girava em torno do Sol e não o contrário, como acreditavam.
De tempos em tempos surgem novas idéias que vêm balançar as idéias já previamente formadas mostrando o quanto estávamos, não errados, mas ignorantes a respeito daquele assunto.
É como se um véu fosse tirado dos nossos olhos.
Aliás o verbo descobrir já diz tudo. Descobrir é tirar a cobertura e aí, a gente passa a ver aquilo que não podíamos ver antes porque estava coberto. Todavia, até hoje, há pessoas que acreditam que a ida do homem à lua não passou de mais uma espetacular encenação cinematográfica de Hollywood.
Mas, quer alguns queiram quer não, a sociedade vai progredindo e o que se pode observar de desenvolvimento nos últimos 50 anos mostra o quanto evoluímos, pelo menos na área da tecnologia.
As primeiras televisões, as poucas opções de marcas e programas. Isso para não falar da imagem cheia de fantasmas e chuviscos. Se alguém, naquela época, pensasse em algo lá no céu que de tão alto pudesse transmitir para Terra inteira, teria sido considerado louco. Hoje a transmissão por satélite e a antena parabólica são realidades indiscutíveis.
E a telefonia? Há uns 35 anos atrás quem quisesse ter um telefone fazia inscrição e esperava a perder de vista. As ligações sempre via telefonista, eram difíceis, levavam dias e a qualidade era péssima. Hoje, se fala com alguém em qualquer parte do mundo como se a pessoa estivesse ao lado.
A Internet hoje faz parte da realidade de muita gente trazendo informação instantânea e oportunidade de comunicação virtual através de várias formas. Quem acreditaria no fim do comunismo?
E que a grande potência da União Soviética iria se desmoronar?
E na queda do muro de Berlim?
O mundo mudou. Mudou muito, progrediu numa velocidade absurda. Os primeiros computadores eram enormes. Hoje muitos cabem na palma da mão.
Então, o cientista Charles Richet, no século passado, acertou quando disse que, o que hoje pode parecer absurdo, amanhã já não o será.
E se tudo muda, se o mundo muda e se somos nós que mudamos o mundo, nós também temos que mudar, também temos que acompanhar o progresso.
Mas o que falta progredir? Falamos de EDUCAÇÃO.
Às vésperas do despertar do Terceiro Milênio estamos às voltas com a educação como um todo.
Tanta coisa se transformou e a educação caminha a passos lentos. Nossas escolas, a grande maioria, se apresentam iguais às do passado. Prédios que se assemelham a presídios e hospitais geram temas para piada. Cores sombrias, distantes, desestimulantes. Construção sóbria, sisuda e fria.
E como se não bastasse a aparência nada estimulante, o tipo de metodologia, o conteúdo escolhido e a forma contribuem para afastar cada vez mais o interesse do estudante pela escola. Hoje, qualquer banca de jornal da esquina traz mais informação e de maneira muito mais atraente que qualquer sala de aula.
Os anos passam e as coisas continuam exatamente iguais.
Até que alguns pioneiros, aqui e ali, cansados de esperar mudança do alto, resolvem arregaçar as mangas e sair à luta. Unem-se a outros, de outros países, de outras matérias e tem a grande alegria de ver um véu ser retirado de seus olhos. Quantos recursos novos para estimular o aprendizado! Quantas técnicas! Mas continuam sozinhos. Como sensibilizar as autoridades competentes? Tanta burocracia ! Tantos estereótipos! Tantos conceitos arcaicos enraizados! O que fazer para sacudir esses preconceitos?
Luta vã. De cima nada vem. Nada muda.
E por que não mudar a base? Por que não começar uma mudança gradual, sólida, sem imposições e sim conscientizações?
O grande desafio para o 3º milênio na área da educação exigirá mudanças muito mais interiores do que exteriores.
Os professores deverão trabalhar na aquisição do auto-conhecimento. Só se é capaz de se mudar o que se conhece. E se não nos conhecemos o suficiente, com certeza somos portadores e porta-vozes de teorias que não defendemos.
Para ser crítico é preciso conhecimento. Para mudar é preciso conhecer o que se quer mudar e o que se quer depois da mudança. Uma vez definido cada ponto, o trabalho pela mudança começa gigantesco. Mudanças comportamentais são verdadeiras metamorforses.
O professor do próximo milênio precisará transmudar-se, transformar-se, fazer brotar outro ser de dentro de si. Mais consciente, mais valorizado, mais humano.
Conseguido este estágio, partiremos para a mudança exterior, acreditando que, conceitos antigos, arcaicos, obsoletos, foram sendo abandonados pelo caminho e que estamos prontos para a próxima transformação.
Transformar a maneira de ver a educação.
Acreditar que ela pode ser diferente.
Começar as mudanças devagar, numa turma aqui, outra ali, observando as reações. Sempre haverá reações. Sempre haverá diretores, professores, pais ainda com a vestimenta do passado, prontos para detonar qualquer esforço nosso.
Mas isto não poderá ser obstáculo e sim estímulo para que continuemos lutando. Não importa que muitas frases assassinas cruzem nosso caminho. Nossa persistência, nossa firmeza, nossa certeza de que estamos dando o passo certo nos motivará a continuar buscando nossa meta.
Vamos derrubar muros antes intransponíveis. Vamos derrubar potências políticas! Vamos mostrar ao mundo que em algum canto deste planeta existe alguém que acreditou na capacidade de mudar, que acreditou numa nova idéia, muito mais grandiosa para a educação, e colocou-a em funcionamento.
E como resultado colheu a gratidão de seus alunos e a certeza do conhecimento adquirido por eles.
O professor do próximo milênio não será mais um mero repassador de conteúdos mas um preparador emocional e um facilitador do aprendizado.