“O Bixiga está em decadência. O que foi um bairro de imigrantes italianos, hoje é de migrantes brasileiros menos, e põe menos nisso, privilegiados. Mas ainda tem os bares, cantinas, cafés e os teatros. Se a Vila Madalena e Moema apresentam vida noturna mais intensa para quem gosta de música e bebida, a Bela Vista continua imbatível quanto ao número de teatros, que insistem, teimosamente em permanecer por ali, apesar da minguada freqüência, entre outros problemas que enfrentam”.
Essa parece ser opinião geral. Madalena e Moema que me perdoem, mas o Bixiga é mais “pessoal”, até mais fraterno, mais popular mesmo. Tarantela com samba, pizza e feijoada, vinho e cachaça, italianinha e mulata…..ai….
Uma amiga, Bromélia Maria, disse que a Bela Vista é boa para quem tem realejo. Eu, feminista que sou, jamais contrario uma mulher, ainda mais sendo uma fada, letrada e letrista. Ela gosta de tomar sopa de letrinhas, aquela do tempo do realejo. Imagino o que ela faz, juntando os macarrões, b com a dá ba, be com e dá be, até surgir um texto…Coisas de fada…Sopa gostosa, servida as quartas….Eu, por mim, volto ao meu tex(s)tículo…ou ao Bixiga.
Gosto dos botecos do bairro, qualquer boteco, nenhum específico. Ninguém me encontrará na Achiroppita, mas em bar a probabilidade de ser encontrado aumenta monstruosamente. Fico por ali, em uma mesa de frente para a rua, no mais das vezes na Treze de Maio ou na Rui Barbosa, espiando a moçada que passa. Moçada no feminino, se me entendem.
Penso que não existe nada mais bonito do que mulher “passando”. Andando, fazem movimentos que só elas sabem fazer, andar empinando a bunda ( desculpe, mas não gosto de usar outra palavra, acho bunda insubstituível ) e os seios ao mesmo tempo é praticamente impossível. Experimente fazer, se você for homem. Ficará com dores na coluna para o resto de sua vida.
E quando passam de carro, então! Deixam no ar o mistério, olho a cabeça e tento adivinhar como deve ser o restante do corpo. Quando elas olham em minha direção pareço ser invisível, pois olham como se não estivessem vendo absolutamente nada, dissimulam o olhar com muita graça. Creio que a visão periférica delas é bem superior a dos homens, digo isso porque quando elas querem realmente me ver, olham em direção contrária. Como são mestras na arte de disfarçar. Tente fazer isso, se for macho, e ficará vesgo, na melhor das possibilidades amargará um torcicolo memorável.
Quando passam na garupa (prefiro garupa, carona é cariocamente horrível ) de uma moto, proporcionam um espetáculo considerável, visto por trás, claro. Não falo isso por causa da bunda (olha ela aí de novo ), falo porque pela frente é muito provável que darei de cara com um representante da classe masculina. Mulheres me desculpem, sabem que o assunto é moçada, no feminino. Homem fica para outro dia, quando eu estiver (mais) louco.
Mulher “parada”é melhor para a paquera, sei disso. E também tem sua beleza, estática beleza, diria, se fosse escritor. E foi uma dessas que chamou minha atenção, madrugada de frio paulistano, quase ninguém na rua Treze de Maio. Verifiquei a mesa, um copo só, uma garrafa de cerveja. Está sozinha. É bonita. Meu número. Olhou para mim com aquele jeito que elas olham. Fui.
Eu: olá, meu nome é Mario, e o seu?
Ela: Vilma
Eu: bonito nome, e o que você faz, Vilma?
E ela: por quanto?
Só no Bixiga acontece isso.