Dois minicontos

DA RUA DESCONHECIDA
Troni Neto – nome mais esquisito de rua.
Mas é o que esta escrito no protocolo da Wanda Sueli.
Aquela gostosona.
Bem que me engracei naquele dia que fomos juntos pra Ricardo, de trem.
Aquele coxão.. pudera, emprenhou de novo.
Aquela gostosona.
Seu Herber já comeu ela – ah, se comeu.
Fica só nas perguntinhas, nos sorrisinhos..nos convitinhos..
Comeu sim.
Menos eu.
Devia ter falado no trem.
Quando parou na estação senti que ela queria ouvir.
Podia ter convidado pro baile.
Troni Neto – não vou achar.
O documento, pro lixo.
Já entreguei.
Falou.
O HOMEM E A OSTRA

Era uma vez um homem que morava numa ostra.
Apesar de, tratava-se de uma ostra – sem o molusco dentro, claro;
Era ele que habitava o recinto.
Havia um corredor do lado de fora( ficava num edifício) e um elevador que dava para descer e se ir à rua quando estritamente necessário.
Quando retornava ao abrir a porta adentrava à ostra.
E assim se passaram anos.
Um dia ouviu o barulho dos trovões pois não haviam janelas na ostra, e sentiu um desejo esquisito de olhar a chuva.
Desceu e deparou-se com um temporal de lavar final de feira.
Não resistiu e aventurou-se.
Correu ao mar e deixou a chuva.
Sentiu um inexplicável sentimento de perda, felicidade, emoção, tesão, saudade, alegria, tristeza,
burrice, inteligência, fome, sede, sono, vigília.
Ficou sem noção de tempo e admitiu a precariedade da vida.
Voltou para casa, molhado e ridículo.
Ao chegar à porta percebeu que não conseguia abri-la.
A ostra tinha se encolhido e o teto quase se juntava ao chão de ostra.
Na seqüência, catou a picareta junto ao extintor de incêndio e destruiu o entrave.
Ao conseguir entrar na sala viu que havia uma janela e um passarinho safado cantava.