Chegou o homem no boteco. Todo estranho, com cara de mau. Pispiava a noite. Arraialzinho escondido lá nos cafundós de Tabuí. Mineirinhos agachadinhos aqui e ali, cada um aprontando seu cigarrinho de palha e tomando uma pinguinha para tirar a poeira da goela.
O homem da cara de mau, logicamente mal encarado, bigode tapando metade da cara, vai entrando e chutando uma cadeira que estava no seu caminho. Chega direto pro dono do boteco, dá um murro no balcão fazendo tudo quanto é copo pular. A platéia assiste tamanha valentia, sem dar opinião. Cada um picando seu fuminho, dando aquela lambidinha na palha e só assuntando com o canto do olho como quem não quer nada.
O visitante estranho, com voz grossa, daquelas dos filmes de bangue-bangue, grita pro botequeiro:
– Bota uma pinga aí, ô magrelo!
Mineirinho, todo prestimoso, vai lá na prateleira, pega o litro da água que passarinho não bebe e serve uma boa talagada pro homem da cara de mau que vira tudo duma golada só. Platéia observando. Rabo do olho.
– Me dá otra pinga aí, ô nanico!
Mineirinho tava ficando arrepiado. Homem muito desaforento. Carecia ficar mais assossegado. Depois de enxugar o copo umas quatro vezes, o da cara de mau resolve provocar todo mundo enquanto alisava o cabo da peixeira presa na cintura:
– Pur acaso tem aí arguém mais brabo qui eu aqui neste fim de mundo?
Aí mineirinho, o dono do boteco, não agüentou. Levantou do seu banquinho de detrás do balcão e, muito macho, mas de mansinho, falou pro visitante enquanto acariciava o cano duma garrucha tão lustrosa que até brilhava:
– Num tem não sinhô! Os brabo qui vai chegano aqui a gente vai cuzinhano e tratano dos urubu!
O homem da cara de mau deu um sorriso meio amarelo, tomou um restinho da pinga e foi saindo de fininho, assim meio de fasto. Naquele dia os urubus não iam ter com que se banquetear.