Era uma vez uma menina-feiticeira de sardas, cabelo encarnado, olhos grandes e espantados. Vivia na Aldeia-dos-feiticeiros-de-braços-cruzados, para lá das Grandes Montanhas, junto do rio Lá-vai-água. Chamava-se Maria da Lua.
Maria da Lua tinha este nome porque andava sempre “na lua”, perdida nos mundos mágicos da sua imaginação.
Certo dia um velho e perigoso dragão fez covil nas Grandes Montanhas, próximo da aldeia. Os feiticeiros convocaram então uma reunião com todos os anciãos. Sentaram-se em roda, de braços cruzados, e discutiram durante dias o problema.
Maria da Lua e todos os outros meninos-feiticeiros viam o tempo passar sem nada acontecer. Os anciãos-feiticeiros não descobriam uma magia capaz de afastar o dragão, que cada vez se aproximava mais da aldeia nos seus voos de exploração. Não estava longe o dia em que voaria com as suas grandes asas por entre as casas de madeira e as queimaria uma a uma, à procura de tesouros escondidos (não sei se sabem mas os tesouros dos feiticeiros-de-braços-cruzados são famosos).
Enquanto todos esperavam, a vida na aldeia decorria normalmente. Maria da Lua continuava a dar os seus passeios, junto à orla da Floresta-dos-mil-segredos e do rio Lá-vai-água, imaginando mundos sem dragões, flores que voavam, peixes que falavam, e outras coisas maravilhosas. Tão embrenhada andava nos seus pensamentos que não reparou no nevoeiro que se foi formando e se perdeu.
Quando deu por si estava no meio da floresta e apenas via a sombra das árvores. Só o som da água a salvou de se perder na floresta. Seguiu o rio e conseguiu chegar à aldeia.
Naquela noite sonhou com um nevoeiro mágico, que não deixava ver nem ouvir, pois tinha uma música própria, que encantava quem nele se perdesse (era assim um pouco como o canto das sereias).
Quando acordou e pensou no sonho achou que tinha descoberto o modo de os proteger a todos do dragão: fazer um nevoeiro mágico.
No dia seguinte tentou fazer a sua magia e conseguiu tecer um nevoeiro mágico, exactamente como o tinha imaginado, mas que não se mantinha mais que uns minutos. Ora, para afastar o dragão era necessário mais (como é sabido os dragões são muito teimosos e persistentes). Precisava da ajuda dos outros feiticeiros, concluiu Maria da Lua.
Mas, quando procurou falar da sua nova magia na aldeia, os anciãos-feiticeiros-de-braços-cruzados não quiseram escutar uma menina que andava sempre na lua. Só os meninos-feiticeiros acharam que a ideia era fantástica e se decidiram a ajudá-la.
Assim aconteceu que, quando o dragão veio, apenas Maria da Lua e os meninos-feiticeiros tinham uma magia para o enfrentar.
Começaram a tecer o nevoeiro com palavras mágicas (que aqui não posso repetir pois são segredo dos feiticeiros que só eles conhecem). O dragão, mesmo à entrada da aldeia, embrenhou-se no nevoeiro e mudou de direcção, voando para a Floresta-dos-mil-segredos, como que hipnotizado.
Estavam todos os meninos-feiticeiros já a dar gritos de alegria e vitória, quando o nevoeiro começou a desaparecer.
Os anciãos-feiticeiros-de-braços-cruzados que tinham estado a assistir a tudo levantaram-se então e, depois de se consultarem uns aos outros, participaram eles também na magia. O nevoeiro tornou-se cerrado e o dragão voou para longe.
Nessa noite houve grandes festejos e a aldeia ganhou um novo nome, passando a chamar-se a Aldeia-dos-feiticeiros-de-braços-cruzados-mas-que-
-descruzam-os-braços-quando-é-preciso-e-por-vezes-andam-na-lua-para-descobrir-
-novas-magias.