Nada, nada o fazia sentir menos pesado aquela hora.
Poderia – lhe surgir a mais encantada criatura, com seus olhos leves, cristais reluzentes ao olhar , nada, nada o tiraria do torpor que sentia.
Foi o que pensou.
Era nesses momentos que ele se perguntava :- Por que era assim?
Por que por vezes se sentia como um velho carro incapaz de correr velozmente, ou ainda, como uma imensa bolha de gosma, como as que se vê em filmes de terror ou ficção, que mal se locomovem e que possuem olhos, pequenas mãos,
braços minúsculos e nenhuma perna.
Pesa, como pesa o peso.
Na tarde, passeava a brisa, que virara vento e já desenhava um temporal. Era o que via pela janela.
E era no mínimo interessante se sentir assim imóvel, quieto e pesado enquanto lá fora as árvores como loucas puxavam seus cabelos, o ar uivava e as pessoas, apressadamente, corriam como moscas tontas regidas pelo o temporal.
Era no mínimo interessante. Mas a final ela entrou em sua sala e disse que era “nice, very nice” encontrá – lo ali agora.
Quem? O monolito dos Andes fincado no solo da sala? Escondido por trás das lentes sujas de seus óculos? Mas afinal ela usava óculos também e tentava manter o nivel da conversação agradável com ele, que ao julgar das aparências, esforçava – se muito para ouvi – la e ao menos expressar algum interesse por sua presença.
Mas, sempre o mas, foi o colar. O colar colocado na blusa dela que o fez, digamos assim, volitar sua alma rumo a algo que estivesse fora do seu marasmo interior.
Yes! very nice! Concordou.
Um raio faiscou do céu! Ela encantada com, o encontro. Ele encantado com o colar.
O colar! Na verdade um delicado broxe dourado pendurado num fino cordão da mesma cor. Folhas recortadas e sobrepostas uma a outra dentro de uma moldura circular. Formando uma medalha singular onde a lua, ou seria o sol, pairava sobre um tigre, meigo e adormecido.
A mulher vestia uma blusa vermelha, o tigre repousava na bolha e borbulhava, borbulhava cheio de indagações. Como a de :
Por que as mulheres de baixa estatura são as mais interessantes?
Mas um tigre, ele pensou, numa ataca a sua presa de imediato.
E enquanto ela falava, falava e mais falava, ele flutuava ao sabor de suas idéias, imaginando, por exemplo, o quanto daquele sorriso “very nice” continuaria estampado no rosto da quela mulher se ela soubesse o quanto ali ele já a via nua, completamente nua, usando apenas o cordão e a medalha.
Hum! Inundou – lhe ume serenidade, talvez a chuva nem viesse mas ventava a faiscava lá fora. A final livrara – se do torpor.
Ergueu – se da cadeira e se espreguiçou.
Os dois apertaram as mãos e se despediram, com seus sorrisos.
Ela ia para a sala dela, ele sair da dele.
Agradeceu – se silenciosamente por ter deixado a porta aberta.
Ela seguiu para o fundo do corredor. Ele em direção a saída , ele virou – se e a avistou de costas caminhando : belas nádegas bem pensou.
Ah! Os tigres ! animais insaciáveis foi o que pensou não ele, mas ela segurando a sua medalha e a fitando por um momento parada na porta de sua sala.
Lá fora.
Bem, lá fora apesar da ventania o mundo e suas coisas tomavam o seu curso.