Ele amava loucamente a prima. Mas seus pais queriam que ele fosse frade. Sem encontrar uma saída, coagido e apaixonado, em agosto de 1794, ele ingressou na Ordem Franciscana. Recolheu-se a um convento, em Salvador, com apenas quinze anos de idade. No sossegado e austero claustro seráfico, começava o seu calvário; o calvário do jovem Francisco da Silva Bastos. Na Ordem, passou a se chamar frei Francisco de Santa Rita Bastos Baraúna. Entre os irmãos de hábito, simplesmente frei Bastos.
Ele amava loucamente a prima. A rigidez da clausura, e a solidão da cela fradesca, aumentaram-lhe as saudades de Teresa, sua musa , sua encantadora paixão, como ele, filha do bairro do Rio Vermelho.
Nascido em Salvador, no dia 3 de dezembro de 1778, frei Bastos sonhava em vestir a toga de juiz. Nunca o amarrotado burel franciscano. A batina lhe fora imposta. Seus pais, intransigentes, queriam vê-lo monge, nem que o filho tivesse de, por isso, pagar um alto preço, o que acabou acontecendo.
Sem vocação para o sacerdócio, e loucamente apaixonado por Teresa de Jesus Bastos, o fradeco dificilmente cumpriria os votos aos quais jurara ser fiel. E como o celibato não constava de seus planos, “engolfando-se no vício, procurou ouvidar o amor” que nutria por Teresa.
Teresa, na descrição de Eduardo Carigé, sobrinho de frei Bastos, e seu principal biógrafo era assim: ” De tez morena, verdadeiro tipo das filhas da Andaluzia , com o semblante angélico e a beleza plástica das virgens de Murilo e Tizziano.”
Frei Bastos, “o condenado do claustro”, apesar de sua obstinada paixão pela prima, no púlpito da Igreja de São Francisco, foi um orador sacro inigualável. Os baianos aplaudiam, emocionados, seus envolventes sermões, e, nos quatro cantos de Salvador, o povo repetia: “Fr. Bastos é um enviado do céu.”
Por seus críticos mais excitados foi comparado a São Tomás de Aquino e a Santo Agostinho. Junqueira Freire chegou a chamá-lo de o “Bossuet brasílico”. Falava correntemente o Latim, o Francês, o Grego, o Italiano e o Inglês. Poeta de belíssimos sonetos, brindou a Ordem Franciscana com o poema “Assiszeida”, aplaudido pela comunidade franciscana brasileira.
Um libertino de hábito, frei Basto transgredia, com freqüência, a Regra dos Frades Menores, legada pelo Poverello de Assis. A paixão por Teresa o levou ao jogo e à bebida . Fumava sem parar. Fugia do convento. Não poucas vezes, foi flagrado “numa seresta no meio de dengosas mulatas de quadris roliços e seios ondulantes”.
Frustrado, não conseguia guardar a Castidade, dos três votos franciscanos, certamente o mais difícil de ser preservado. É fácil ser pobre; não é tão traumático obedecer; mas, guardar a Castidade, em muitas ocasiões chega a ser uma tortura… Principalmente quando o religioso é um homem apaixonado por alguém… Poucos são os que não sucumbem diante dos apelos da carne.
Assim, entre Cristo e o diabo, viveu frei Bastos, um franciscano apaixonado. Vítima da intolerância do seu tempo, frei Bastos não pôde deixar o convento numa boa para viver ao lado de Teresa… e ser feliz, pois ela também o amava.
Morreu paralítico , no dia 2 de setembro de 1884, “lançando um olhar sereno para o Crucifixo” que tinha nas mãos, e ouvindo o canto triste de seus companheiros menores. No mesmo dia, num mosteiro distante, irmã Teresa, freira ursulina, rezava, no aconchego de sua cela, pela alma do seu grande amor…