Pena Capital

De nada lhe valeram os protestos. Menos de dez minutos após o alarme, as forças de segurança agarraram-no, despiram-lhe as finas vestes e expulsaram-no da cidade. Tombou nu no exterior das muralhas, despido de estatuto e coberto de vergonha.
Na penumbra, sombras de gente passeavam os andrajos pelos limites da urbe em busca de um milagre, pois o acesso à cidade era rigorosamente interdito aos inferiores. E ele, nascido cidadão, via-se agora do lado de fora da vida. Condenado a sobreviver sem conforto, o pior dos castigos.
O sistema de avaliação dos cidadãos era, dizia-se, infalível. Ele era a prova viva do contrário. Conservava registos detalhados do seu percurso sem máculas. De nada lhe serviram. Só a Máquina podia promover os habitantes a zonas de elite. Ou puni-los pelo insucesso.
Chorou em pânico com a memória fresca das palavras que o sentenciaram:
Limite de crédito ultrapassado. O seu cartão expirou.