Apesar do tempo, que é cruel e não descansa; da distância, que é enorme e sempre aumenta; e da incomunicação, que é patente como o silêncio mais gritante, sobra intato o vínculo intangível dos laços emocionais que viajam pelo espaço como o eco, encurtando as distâncias em vôo rasante, já que uma afinidade indestrutível impede que as circunstâncias cortem e devorem o cordão umbilical eletrônico que nos mantém vivos dentro deste imenso útero cibernético.
Ainda que não seja muito amigo das datas históricas nem dos festejos pátrios ou nascimentos divinos, constato que esses referentes muitas vezes servem para reunir as famílias fraturadas pelo passo inexorável do tempo; para reatar laços de amizade desamarrados pelas mãos inclementes da distância; para juntar os cacos do que alguma vez fora um todo harmônico; para o reencontro de emocões perdidas; para aproximar amigos afastados, tios zangados, pais esquecidos, filhos rebeldes, irmãos incomunicados, que não por essas circunstâncias são menos queridos; ou para reviver lembranças, que não por pertencerem ao passado estão menos presentes.
Ainda que neste mundo cada vez mais virtualizado e globalizado e desumanizado pouco ou nada nos conheçamos, e nos faltem as palavras adequadas para dignificar e traduzir con exatidão os nossos sinceros desejos de felicidade, não deixarei passar esta oportunidade de reincidir, e abusando dos chips, dos megabytes, de seus robustos filhos – os kilobytes – e de seus netinhos -os pequenos bytes – redijo estas linhas tortas com as quais quero transmitir meus votos profundos e sinceros de tranqüilidade e paz interior para todos vocês.
Seja qual for a magna data a ser comemorada, a simbologia do festejo contém uma enorme carga de significados. Espero e desejo que sirvam para que cada um de nós possa encontrar as respostas que nos ajudem a crescer sempre, a melhorar mais, a conviver melhor, e a colher os frutos de nossa lavoura.
Fico por aqui…
…olhando pela janela o agonizar de muitas coisas: do ano que parte, do século que sucumbe, do milênio que murcha, e, respeitando a simetria da vida – na mesma janela e com os mesmos olhos – contemplando o nascimiento de tantas outras: do ano que vem, do século que emerge, do milênio que assume o poder, e da esperança, sim, essa esperança insistente e persistente que não se rende, apesar de ter motivos de sobra para não querer seguir vivendo.
NOVA ERA
Saberão os herdeiros do novo tempo
suar de angústia
chorar de ternura
tocar olhando
dizer calando?
Poderão os inquilinos do novo século
morrer de amor e renascer
pedir perdão por não saber
tender a mão sem exigir
gritar verdades sem temor?
Verá o milênio entrante
que herda carícias impotentes
promessas incumpridas
mentiras verdadeiras
e instantes decisivos?
Quererão os dias futuros
escancarar a porta à esperança
ler o testamento do passado
e entender, e entender, e entender?…
Já saberemos quanto saberá o milênio
já veremos o que dirão seus anos
o que farão seus filhos
e suas máquinas
e seus líderes
e suas bombas
e seus hinos.
Já teremos tempo de saber
se o que sabe tem gosto de futuro
se o que diz ensina o caminho
se o que oferece vale o seu preço.
As respostas virão cravadas
no horizonte cibernético
no firmamento internáutico
na ignorância terapêutica
ocultando o essencial
do vital
do letal
do fatal.
Veremos o que queiram?
Faremos o que digam?
Seremos migalhas sobrantes
sobre a toalha do tempo?…