_ Pai, o mundo vai acabar!
Luís lia sossegadamente sua revista quando Pedro, seu filho de seis anos, chegou com essa estranha notícia.
_ Ahn?
_ O fim do mundo, pai!
_ O que que tem?
_ Tá chegando! É amanhã…
_ Que isso?! Deixa de ser bobo…
_ Eu vi, pai.
_ Onde?
_ Na televisão. O demônio vai chegar aqui e vai pisar em todo mundo. Vai ter vulcão, terremoto, até eclipse! e o mundo vai acabar.
_ Você tá vendo televisão demais…
_ Tá bom, pai. Mas falou lá que o mundo vai acabar.
_ É mentira.
_ Então vamos brincar de alguma coisa.
_ Não. Agora eu tô lendo a revista.
_ Você tá lendo revista demais… nem fica comigo.
_ Você quer brincar de quê?
_ De assassinato!
_ Ahn?!
_ Igual no “Matrix”; eu sou ele e você vai morrer. Pá! Pá! Pá!
_ Pára de atirar! Você tá vendo filme demais…
_ Vamos jogar video-game.
_ A fita de sinuca? Oba!
_ Não, pai. A fita de luta.
_ Não, aquela é ruim.
_ É mesmo, tem pouco sangue. Mas eu vou jogar. Pedro vai para o quarto jogar video-game. A mãe chega do serviço.
_ Oi…
_ Oi. Pedro tá muito violento, Marta.
_ Ele te bateu?
_ Não. Ele gosta de coisas violentas…
_ Ah, bem. Deixa ele, tadinho.
_ É… coisa da idade, né? Eu tenho de sair agora, volto daqui uma hora. O Pedro tá no quarto.
_ Tá. Tchau.
_ Oi, mãe!
_ Oi, Pedro.
_ Vamos brincar?
_ Não posso. Tenho de terminar um trabalho no computador.
_ Você fica no computador demais…
_ De que você quer brincar?
A campainha toca. É Lúcia, a vizinha.
_ Oba! Agora tem um montão de gente pra brincar!
_ Fica quieto, Pedro! Nossa Senhora! Você tá impossível hoje!
_ Vamos brincar de assassinato, mãe!
_ Assassinato? Que que é isso?! Onde já se viu, Lúcia? Vai pro seu quarto, vai! Vai ver televisão. Brincar de assassinato… deve ter aprendido na escola. Aposto!
Dez minutos… O garoto volta do quarto, triste.
_ O fim do mundo, mãe…
_ Mais essa! Quem te falou essa bobagem? Foi o Lucas, né? Esses seus coleguinhas…