Pode deixar que eu tiro a camisinha; jogo ela lá no vaso, pode deixar.
O homem se encostou na cabeceira da cama e com um toque aumentou o som.
A mulher foi andando para o banheiro como se o caminho até lá fosse uma passarela.
Ele sorriu.
A música encheu o quarto do motel, ele ligou a TV e um casal fazendo um 69 gemia e gemia.
Ela não voltava e o casal gemia.
O rádio bipou, era um dos seguranças, tudo certo, câmbio e tal e coisa.
E ela não voltava.
O homem saiu da cama e, como se estivesse prevendo algo de ruim, deu um encontrão na porta do banheiro. Abriu. Ela estava sentada no vaso com a camisinha na mão, a ponta estava fechada com um nó e ela tentava colocar a coisa dentro de um tubo de plástico.
Quê isso? Porque você está guardando isso?
Ela tentou sair correndo e foi agarrada. Levada pelos cabelos até a cama, ouviu o rádio chamar a segurança. Em um instante 3 homens estavam dentro do quarto. Com uma arma na cabeça, começaram a perguntar. Depois foi tapa na cara e não trouxe respostas, só um filetinho de sangue saindo do nariz. Mais um pouco de violência e a torneira abriu.
Ela tinha recebido uma bolada de dinheiro para levar a camisinha cheia com o esperma do cara. Não sabia de mais nada, por favor me deixe ir, não me bata mais, tá bom, eu sei, eu conto tudo, sei só mais algumas coisas, eu conto, não bata mais, eu falo.
E a história começou:
Alguém tinha contratado uma grande equipe para obter alguns itens especiais e esta equipe, por sua vez, pagando, subornando e chantageando, já tinha conseguido pedaços de unha cortados por uma manicura, um pouco do sangue tirado para um exame, cabelo cortado num barbeiro, e, agora ela quase tinha conseguido o esperma.
O homem riu, riu alto. Quer dizer que com meu esperma a coisa ia ficar completa para quê?, para um feitiço? Grandes merdas! Feitiço!
Não, disse a moça soluçando, ainda faltava a saliva.
Essa era a mais difícil.
Pois então te dou um pouco falou o homem. Te dou e você entrega lá pra quem te contratou. Entrega e diz pra eles que fui eu que mandei! Entrega especial, por conta da casa!
E a moça foi deixada no quarto, meio desacordada, com a camisinha cheia de esperma na mão e uma cusparada no rosto.
De noite em casa, sentado em sua poltrona preferida o homem esperou a esposa chegar bebendo conhaque num grande copo e soltando anéis da fumaça de um charuto. Ela entrou no escritório e andou até ele falando e espalhando as bolsas e sacolas de compras, abaixou para beijar o rosto e seguiu falando. Que a loja tal que o shopping qual, que isso e aquilo.
O homem se levantou e perguntou:
Recebeu a encomenda?
Que encomenda?
Ora, ora, não se faça de besta, a moça fez ou não fez a entrega?
A camisinha, o cuspe, recebeu ou não? Falou alto, rindo e batendo na barriga.
Ridículo! Quanta asneira, uma mulher tão inteligente!, agora, quanto ao cuspe, você me desculpe pela embalagem!
A mulher calada sentou-se, enquanto o homem ria e ria e gargalhava e falava e ria e batia na barriga e se engasgava e ria mais, até que a dor da primeira agulhada fez ele rodopiar e cair ao chão, babando e se sacudindo como se estivesse sendo picado por abelhas.