O Rio Paraíba, a Dutra e o Comércio Eletrônico

Há pouco menos de dois meses, fui passear no centro da cidade de Paraibuna, local próximo à confluência dos Rios Paraibuna e Paraitinga, formando o Rio Paraíba do Sul que dá nome ao nosso “Valley”.
Quando a fome apertou, escolhi um restaurante na praça da matriz, sentei-me e pedi o cardápio. Ao perguntar ao garçom, que também era o dono estabelecimento, o que era aquele “fogado” que constava no cardápio, qual não foi a minha surpresa quando ele me apresentou um guia de viagem para caroneiros, em francês, com uma descrição detalhada da preparação do tal “fogado” e recomendando o pequeno restaurante de Paraibuna. Disse ainda que descobriu a referência ao seu estabelecimento ao perguntar a um dos turistas franceses, que começaram a aparecer cada vez em maior número, como foi que eles tinham encontrado o seu restaurante.
Terminado o almoço, perguntei se o arroz-com-suã era tão bom quanto o “fogado” e ele me disse que sim, mas só poderia ser servido com reserva antecipada, dado o tempo de preparação da iguaria.
Em seguida, deu-me o cartão com o número do telefone do restaurante e adicionou de próprio punho o seu recente endereço de correio eletrônico na Internet, caso eu quisesse fazer uma reserva para me deliciar o arroz com suã. À partir desse instante eu fiquei em dúvida se eu deveria tratá-lo por Senhor ou Monsieur…
Regressando a São José dos Campos pela Rodovia dos Tamoios, cruzei a Via Dutra, hoje privatizada, e me lembrei da privatização da Telebrás. Que relação tem uma coisa com a outra? Pois é, nessa mesma auto-estrada destinada ao transporte de pessoas e mercadorias está sendo assentada uma outra via: a auto-estrada da informação, representada pelas centenas de quilômetros de cabos de fibra ótica ligando São Paulo e Rio de Janeiro. Estando o Vale do Paraíba entre essas duas mega-metrópoles, seguramente a vida das pessoas e os negócios desta região sofrerão grandes impactos, como o que afetou a clientela do pequeno restaurante de Paraibuna.
As telecomunicações vêm sendo literalmente empurradas por uma tecnologia que vem pegando fogo como nenhuma outra antes. Só para dar uma idéia, o rádio levou mais de trinta anos para alcançar 60 milhões de pessoas, a televisão 15 anos, e a Internet, em três anos, transformou-se de um mero espaço para micreiros em um vasto espaço de comunicação envolvendo algo como 90 milhões de pessoas, fazendo negócios a qualquer hora em qualquer lugar no mundo. Se já é impressionante a evolução dos microprocessadores que, segundo a lei de Moore, dobram de velocidade a cada 18 meses, as telecomunicações vêm, segundo a lei de Metcalfe, dobrando o volume de tráfego a cada seis meses, com uma grande contribuição da Internet, é claro.
Do mesmo modo que os ciclos do café, das indústrias de Defesa e Aeroespacial, a Internet promoverá o abandono de velhos hábitos e a criação de novas oportunidades para pessoas e empresas.
O Vale do Paraíba e os seus tradicionais vizinhos do Litoral Norte e da Serra da Mantiqueira devem aproveitar a ocasião para se aproximar cada vez mais entre si e da comunidade global através das pessoas e do comércio eletrônico que possibilita o relacionamento entre os mais diversos interlocutores ignorando limites geográficos e os fusos horários.
Alguém mais tem uma dica de um bom restaurante na região que aceite reservas pela Internet?