O tempo ruge. O tempo urge. O tempo muge. As vacas enlouqueceram. Recomeçaram as chuvas de fogo sobre Bagdá. A terra rachou no noroeste da Índia. Os presos tramam a tomada do poder no Brasil. Estavam com razão os apocalípticos? (…) “Tudo é confusão, as palavras estão cantando, a música está falando.”_ fragmento da ópera Capriccio de Richard Strauss. Ao vivo, no corredor da morte de alguma penitenciária do Texas, se ouve o “rap” do fim do mundo. Quarta feira de cinzas e, de manhã, aquela musiquinha mórbida do caminhão que entrega gás.
Para o historiador das Artes Jorge Coli, numa totalidade simultânea, o “fim” se encontra no “começo” e vice versa. Também para este erudito professor de Campinas (e de Serra Negra) uma só obra pode vir a constituir um método.
Alguns buscam um caminho para o indizível, para a unidade perdida. Todas as partes estão fora de uma sincronia ou de uma harmonia. Tudo é impuro, inculto e feio. Assombrante mesmo. Um pesadelo itinerante. O anti-método, a anti-razão teriam também os seus espaços numa civilização democrática? (…) Arnold Schoenberg não via espaços para as leis eternas. Cada vez mais aceleradamente o eterno se faz efêmero. Uma fotografia feita ontem hoje já está desatualizada, o seu objeto já não é o mesmo, o que confirma, na esquina das ruas do tempo e do espaço, o antigo pensamento de Heráclito de Éfeso.
As ruas do Sapo e do Sossego foram inundadas. A febre amarela grassa em Minas Gerais. Nunca experimentei em minha vida a serena sensação da perfeição. (…) Há tantas sensações e situações que não podem ser ensinadas nem socializadas!… Só Deus sabe quantas!…Ou quais!…
Um cheiro de desinfetante hospitalar circula pelo ar. Rodopiamos feito baratas tontas sob o efeito de inseticidas.
Sou um peregrino, viajante sem destino final, sem um caminho ortodoxo ou dogmático. Caminho incansavelmente. Minhas buscas são incessantes. Calderón de la Barca nos explicou tudo isso.
Ninguém ousa exibir seu álbum de fotografias intoleráveis. (…) “Depois da Oceania o mundo acaba… O mundo de fato é restrito, cabe num olhar.”_ Carlos Drummond de Andrade. Mesmo restrito, é impossível escolher um caminho “certo”e preciso neste mundo.
Na Europa é proibida a entrega de propaganda ou publicidade na entrada das residências ou em suas caixas de Correios sem que os destinatários as queiram receber. Lá também não ouvi nem vi carros circulando pelas ruas emitindo mensagens comerciais pré-gravadas, e em alto volume, até nos domingos e feriados (dias de recolhimento e de descanso).
O humorismo sintético e filosófico de Millor Fernandes consegue invejavelmente ser exato neste comentário: “imortal morre muito.”Um marmanjo ama angelicalmente um poeta. “Pouco a porco” um lite/rato federá como um gambá do Gama Distrito Federal. Leia o jornal da poesia visual Comunic’arte editado há dez anos por Hugo Pontes caixa postal 922 Poços de Caldas Minas Gerais 37701970 e-mail: pontes.geo@yahoo.com
Teseu não está conseguindo sair do labirinto da tesão. O tição que acendeu o fogo de palha é tão efêmero e tão eterno quanto as fagulhas do Universo infinito. Eu, finito, também. Saudades infinitas de uma cabrocha de Belém do Pará. Em torno do além nenhum Amém, nenhum conformismo. Só uma serenidade saudável.
Equilibrante.
Adoro uma cachorrada: é muito engraçada a situação!… Só vendo!… Clarice Lispector também gostava. Foi o que me disse uma das suas empregadas.
Algumas manhãs me são especialmente belas e difíceis. Tudo é imprevisível e inexplicável. Até misterioso. O caos e a desordem natural da vida nos envolvem e nos atraem. E tudo passa, tudo se renova. (4 de Março de 2001).