(texto-collage) dedicado ao Eduardo Waack e a todos os seus leitores em O Boêmio .
“Todos os poetas aspiram ser Cristos ou santos e alguns poetas gay o conseguiram, como San Juan de la Cruz.” _ fragmento poético de Martin Garcia, publicado na revista de poesia, tradução e crítica Babel – número 2 – Maio a Agosto de 2000.
De Agostinho de Hipona até hoje ainda morremos de amor e de santidade. Como uma capa sombria, a humanidade envolve furtivamente a Terra.
“Nem mesmo a destruição do humanismo na era atômica conseguiu modificar o quadro: os monstros radioativos da Guerra-Fria permaneceram fálicos. Esse resistente imaginário persistiu até os anos 80, quando, com o advento da AIDS, o humanismo extinguiu-se totalmente, ou seja, não apenas na realidade, como no próprio imaginário.” (…) “[Glauco Mattoso] Ele perdeu para mim interesse intelectual depois de ter apoiado os “Carecas do ABC’. Espero que , além de encontrar prazer na fantasia de ser esmagado por botas nazistas, não experimente esse “prazer” também na realidade.” (…) “Os intelectuais libertários, que colocavam toda esperança de transformação do homem e da sociedade na liberação dos instintos, não contavam com a contra-revolução representada pela AIDS. Se Pasolini não tivesse sido assassinado, teria sido provavelmente uma das primeiras vítimas da pandemia.”(fragmentos da entrevista do professor Luiz Nazário – prof. De História e Cinema da Universidade Federal de Minas Gerais à mesma edição da revista Babel acima citada).
O soluço da paz, o descanso do aconchego, a serenidade de dormirmos nos braços da vida só os experimentamos após milênios de apavorantes e ameaçadoras perspectivas. Como na sucessão bíblica do Antigo para o Novo Testamento.Como nas forçadas reclusões hospitalares. Como em nossas “conversões” e em nossas emotivas descobertas do amor pela dor que nos abate, nos purifica e nos incita à ressurreição e à transformação subjetiva mais profunda. Boff não concorda com esta visão patológica da História. Patológica? A história é sado-masoquista?
Nossos desesperos, nossos hortos das Oliveiras, nossos pesadelos e pré-martírios, nossos luares com suor de sangue, nossos suplícios solares, nossos sonhos inenarráveis de tão amedrontantes, nossa morte social na velhice, na doença, nos guetos e na marginalização generalizante…ah!… Kolynos!… Quão pesado é o preço da consciência de que podemos e vamos morrer!… Vamos virar fotografias, canhotos de talões, documentos, contas a pagar depois de morto, e, talvez, uma fugidia lembrança. (…) “… o presságio da tumba, morrer, o medo nas asas, e o mundo consigo desaparecer, Deus a língua o mesmo crepúsculo pombas perdedoras…” _ Chistophe Manon – revista Babel número 2 ; tradução de Ademir Demarchi.
Ou podemos considerar o que nos prega Glauco Mattoso ao proclamar no deserto de Neguev:
“Ninguém derrota a morte sem matar-se.”?
O modo de ver o mundo do pintor Francisco de Goya, da província de Zaragoza, no reino espanhol de Aragon, mudou radicalmente após uma grave doença que o deixou surdo. Virou um mundo sem sentido, emoldurado por convencionalismos hipócritas. Talvez aí tenha proferido ou escrito uma das suas frases mais conhecidas: “Afastada da razão a fantasia produz monstros, porém, a ela unida, torna-se a mãe das artes.”
Elza Soares, nos labirintos novayorkinos e em suas cavernas metropolitanas onde se entoam o “gospel”, converteu-se, como em Matão/SP com Eduardo Waack (dado particular a preservar), às verdades peregrinas dos cristãos mais humildes. Temos medo de mergulhar na perplexidade eterna e congelante.
Emocionei-me ontem com o gol de Pelé nos últimos dias do estádio de Wembley – London, ao lado de Elton John…
Um comentário em “Todos os Deuses Ressuscitam-se”
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Caros amigos. Agradeço a lembrança ao meu nome e ao jornal O Boêmio (cultura popular independente e evolucionária). Estamos unidos nesta batalha pela promoção humana e divulgação cultural.