Em minha infância, no Triângulo Mineiro, tosse era curada com leite de égua.
Tanto podia beber o leite num copo, como mamar na teta da coitada. Se bem que os antigos diziam que deveria ser tomado quente, na fonte, para o efeito ser imediato e completo.
Também tomávamos uma mistura (tão ruim quanto não poder nadar do córrego do chapéu) de mel da abelha jataí com agrião… Eficaz. De uma maneira ou de outra, a tosse ia embora rapidinho.
Tudo que importava era curar a tosse, porque sem tosse, o banho nas águas barrentas do córrego do chapéu estava garantido.
Sem tosse, eu (exibicionista mirim), ia boiar pelado pra mostrar a cabecinha do pinto para as meninas que fingiam não querer ver… Sabia que era fingido, o escândalo surpreso, porque todos os dias elas voltavam e de cima da pinguela, jogavam pedrinhas tentando acertar meu pintinho enrugado pelo excesso de tempo imerso na água.
Bons tempos…
Eu só odiava a tosse que impedia minha performance aquática.
Foi traumatizante o motivo pelo qual interrompi o show aos doze anos, meu pai disse que nas águas barrentas havia Bagres e que eles poderiam confundir meu pinto com uma minhoca…
O medo de perder a minhoquinha eliminou minhas chances de atuar no Clube das Mulheres.
O trauma deixou seqüelas. Ainda faço terapia e meu pai se recusa a pagar o terapeuta. Ainda hoje, tenho receio de mostrar a minhoquinha…
Mas a tosse, ela passou a ser bem-vinda, tornou-se a desculpa para nunca mais entrar no córrego do chapéu.
O córrego de minha infância.