Uma Crônica Pisciana

O costume de não comer carne na Semana Santa persiste! A tradição vai sendo mantida. Mas a Igreja Católica, atenta à realidade, faz a sua parte: permite que seus filhos renunciem à abstinência. O jejum, faz tempo, foi abolido.
Contudo, às vésperas do terceiro milênio, ainda existem católicos que preferem não tocar em “carne vermelha” na Sexta-feira Santa. Não querem “pecar”.
Por causa dos abstinentes, o quilo do peixe, durante a Semana Santa, sobe vertiginosamente de preço! A imprensa passa, então, a questionar o preço do badejo, do vermelho, do surubim, da cavala, do robalo, do bacalhau, classificados como peixes de primeira. Os peixeiros, quando indagados, dão desculpas esfarrapadas. Infelizmente, na semana da Paixão de Cristo, só come peixe de primeira quem tem grana. Quem não tem dinheiro, come sardinha, ou se satisfaz mastigando as frágeis e humildes pititingas.
Tenho bons motivos para amar os peixes. Quais? Os leitores irão descobri-los, lendo esta pisciana crônica. Apenas a piranha, moradora indócil das nossas águas doces, e o voraz tubarão, causam-me arrepios. Mas me divirto muito espiando aquários, mirins e gigantes. Recentemente, visitei o aquário de Monterrey, na Califórnia. É enorme e belo. Já conhecia o de Baltimore. E os aquários domésticos? Quanta ternura eles transmitem… Como é delicioso ver seus peixinhos policrômicos, cada qual se exibindo como bem quer, num balé ininterrupto e silencioso. Não gostasse tanto de criar passarins, meu hobby seria criar peixes.
E o peixe na cozinha? Ah, nem é bom falar. Ótimo, tanto a peixada do Alfredo, em Fortaleza, como as moquecas fumegantes do Yemanjá, em Salvador. Valendo lembrar aqui, o saboroso surubim ao molho, da casa do meu compadre Recy Mororó, na simpática Petrolina do Velho Chico.
É de doer o que, nos últimos tempos, vem acontecendo com nossos peixes, nos lagos, nos rios, nos mares. Os jornais, em editoriais, e em reportagens oportunas e robustas, denunciam, todos os dias, que há peixes morrendo, aos milhares, nos lagos, nos rios, nos mares. Sabe-se de quem é a culpa? Sabe-se. Mas não se pune o culpado. É lamentável!
Tenho feito o que está ao meu alcance: protestar, protestar, protestar… Mostrando, inclusive, que os peixes “assassinados” poderiam, perfeitamente, e sem maiores ônus, alimentar milhares de brasileiros que, famintos, se arrastam pelas ruas das cidades, procurando, nas latas de lixo, sua refeição. Mas, não tenham dúvidas, nossos peixes só serão definitivamente preservados, quando nossos lagos, nossos rios, nossos mares forem bem cuidados. Tá?
Os peixes, creiam, são animais sagrados. Na Bíblia, eles estão presentes nos Evangelhos de São João, de São Mateus e de São Marcus. Contam os discípulos escribas, que os peixes ajudaram o Rabino a fazer um de seus mais significativos milagres: A festa da Páscoa se aproximava. Jesus viu que a multidão que o rodeava estava faminta. Queria alimentá-la, mas só tinha “dois peixinhos”. Que fez o Mestre? Agradeceu a Deus, pegou os dois peixinhos, e alimentou a galera. Quase cinco mil pessoas, segundo São João. E acontecia o milagre da multiplicação dos peixes!
O peixe foi o símbolo dos cristãos perseguidos, na Igreja Primitiva.
Funcionava como uma espécie de senha.
A Simão Pedro, um humilde pescador, Jesus entregou o comando de sua Igreja…
“De hoje em diante serás pescador de homens.”
Diletos leitores, se a mim não bastasse o que relatam os textos bíblicos, outro motivo tenho pra gostar dos peixes: nasci nos primeiros dias de março. Sou, portanto, um pisciano. Embora – acreditem se quiserem -, sou muito pouco daquilo que o meu signo diz! Mas, não sei por que, vez em quando, consulto meu horóscopo!