Sozinha à beira do fogo
vento bate
me salva do fogo
de uma página colorida .
Sopra-a pela rua afora .
Folhas coloridas , em chamas
última esperança .
Lucidez e Ausência
Irreconhecível
me procuro lenta
nos teus escuros .
Fico no tempo
minha varanda
coberta de begônias empoeiradas .
Sem palavras .
Barulhos cotidianos
inesperado silêncio .
Sons difusos , dissonantes
espalhando-se pela casa deserta
entrando em meu coração amargurado .
Castigo Divino ,
sorrir apertando os lábios .
Sorrisos maliciosos
fundo da alma , amargura
desejos inconfessáveis .
Nós dois
abraçados , colados , fundidos .
Corpo ardendo de desejos impossíveis .
Dias atordoados , noites longas.
Suores , frustações
novelas no rádio
leituras para matar o tempo
em que não te vejo .
Amei a serenata
que você nunca me fez .
Falando devagar
sílaba por sílaba
como algo muito frágil .
Casas de doce , castelos
Fadas , maçãs mágicas .
Cheiro de homem suado
cigarro e cerveja .
Na memória
traço por traço .
Sorriso tão claro na garganta
lágrimas pingando
no assoalho escuro
desse mundo que esconde
meus tesouros .
Entontecida pelo calor
sorriso que doeu
banho recém tomado
lavando mágoas e suores
de um cair da tarde .
Mãos hesitantes ,
olharam-se nos olhos
fatigados , quase sem ilusões .
Trêmulas , encabuladas
tocando-me como que por acaso.
Olhar guloso
fogueira no corpo ainda virgem
fogueira ( me ) incêndiando
livros e sonhos
bruxas e príncipes .
Vontade de gritar
um grito alto e forte
um grito alto e triste
que dobre lá longe .
Pés descalços
semelhantes a raízes .
Aura insuportável
lucidez e ausência .
Amor cotidiano , distraído
não de palavras e gestos .
Mas, de lençóis trocados
em dias certos .
Engasgada ,
com as palavras ensaiadas
brotavam sombras
me infiltrando ,
jogando no rosto aquilo
que não havia sido , apenas ameaçado .
Afetos entre as paredes
intensos , cheios de sangue
recheio de páginas .
Passos medidos
boas-noites medrosos .
Página inteira
feliz
livro inteiro
infeliz
Mundo inteiro
imã às avessas , doidera
garrafas vazias , suculentas
camas desfeitas .