Balada das mãos

As mãos são reflexos do instante
iluminando gestos mágicos
na transitória encenação
títeres de um palco de acasos.

As mãos são sentinelas rápidas
desenvoltas estrelas de afagos
do murro em sua fúria intérpretes
atentas aos raios e ataques

As mãos inventam ventos dóceis
desenhando signos nos gestos
fala de nuvens desgarradas
texto descrito nos contextos:

Àquele adeus mais doloroso
último ramo em oferenda,
que sabe a dor com suas cores
inscrita no arco-íris da agenda;

toque roçado em corpo manso
as mãos semeiam as nervuras
no sulco em pele oferecida:
paixão de arrepios e juras;

são essas mãos abençoadas
ajudando os nossos milagres
que trazem o grito primal
da vida por inteiro ávida;

por vezes desencaminhadas
ao mando de momentos tortos:
como o rebenque vergastando
o lombo de cordeiros-lobos;

eram as mesmas mãos divinas
que curavam coxos e cegos
mãos milagreiras lazarinas
indo em contramão ao evangelho.

ENVIO

Por fim declaro nesta oitava:
não dou a mão à palmatória
nem a direita nem esquerda
escrevo sem buscar a glória.
Da vida não contei as perdas
nem tenho culpas no cartório
na trilha que se sabe lerda
sou peça sem valor no empório.