Koisas e Loizas

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O SISTEMA

Quero dizer tudo;
porém algo me impede.
Não, não é a falta de palavras
nem uma insuficiência de redação
nem uma deficiência do aparelho fonador.
Não, não é o medo de me
comprometer.
Sim, eu tenho esse medo,
mas sei também que é preciso
dizer.
É preciso dizer tudo,
mas eu não posso…
Algo me impede,
indefinível, mas presente.
E tangível,
mas improvável.
E visível,
mas intocável.
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ORÁCULO

A flor vai murchar
A pedra crescer.
O pó em camadas
Se espalhará
Obstruindo poros
Matando flores
Gerando secas folhas
Entre o povo.
A flor vai murchar
O sol escurecer.
O que de frio há
Se proclamará
Cristalizando odes
Acinzentando cores
Gerando frutos podres
Entre o povo.
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ALINEÁLIA

linha
a linha
é a linha
não é a linha
plano
o plano
é o plano
não é o plano
importa o plano?
importa a linha?
suporte a pedra,
entorte a trilha
a escolha é sua
o caminho é seu
a fortuna é ter
um destino azul
azar de quem
não o tiver?
ou deveremos
lutar?
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INVEJA

porquê
porque não fui eu que escrevi
este verso
ele é tão simples
verdadeiro
melodioso
comunicante
artístico
poético
amigo
sintético
analítico
atual
vitalizador
vivo
comprometido
original
triste
alegre
complexo
difícil
crítico
único
intangível
magnético
espiritual
animal
belo
este verso
acho que esgotou em definitivo
minha esperança de
poetar algo que preste
mesmo que matem o poeta
não vai adiantar
o verso já está escrito
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TRÊS SEIS SETE HORAS

Percorrendo vias enquadrilateradas
Grupos celúlicos de irregulares paralelepipedais
Sob o sol da tarde ceda
Mais vermelhos, em seguida,
Sob o sol da tarde meio vivida
Ah! Agora, sim, o Diabo parece ter-se esparramado
Por todo lugar, espargindo à tarde exangue
O sangue do bode do sacrifício.