(aos que cantam pelo Brasil há quinhentos anos)
“…viola em noite enluarada
no sertão é como espada,
esperança de vingança…”
Viola enluarada – Marcos e Paulo Sérgio Valle
O homem que reza ou que canta à capela
traz no braço a enxada e o violão
mas não diz nem por nada
se é feia ou bonita ou mais bela
a vida que leva nos pés e na mão.
Na palma da terra risca o mapa
do que conquista e consente à socapa,
e divisa no acorde que arrisca
presente e passado a canção.
Se por assim dizer traz o laço,
tem na cabeça a sentença
de ser cabresto e bridão,
mas tem também – quem diria –
o preço que paga quando pensa,
por senso e fantasia,
em dançar conforme o passo
(pau e pão, coice e chão ).
Não há mais que ter sem saber
o que bem sabia além do pé e da mão,
do sonho que bem podia sonhar
– em viver na terra ou no mar
ou nas rodas do caminhão
e sem se abalar só cantar
pras bandas do tal sertão.
Nas mãos postas na vida
de ave de arribação
traz o vento batendo na lida,
dizendo que sim, fazendo que não.
E no que se diz ou que faça
mesmo o que fica ou que passa
é sempre tocar o bordão
nas cordas do coração.
Um comentário em “Ave de Arribação”
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Lindo poema, que cabe não só “aos que cantam pelo Brasil há quinhentos anos”, mas também a quem já arribava por esse Pindorama, vivendo e trabalhando assim como os que chegaram e rebatizaram a terra.