Gozos

Gozo I

Quando teu corpo me foge
pela via do gozo
que te consinto,
apenas premedito perceber,
no entreabrir
e desfalecer moribundo
de tuas pálpebras vacilantes,
uma tal e frenética felicidade búdica
inscrita nos brilhos caleidoscópicos
de tuas pupilas…
Agora — e só então, assim —
meu corpo me foge a mim.

Gozo II

Teu corpo me causa náuseas.
Não as náuseas de um qualquer
estado de asco ou ânsia,
…não!
As náuseas que me causas
são as de uma possessão;
um querer insaciável…
…ao passo que busca,
repele nevrálgico o toque,
dores lancinantes,
quais testículos de gozo frementes.
Náuses que me provocas,
por um estado febril,
voluptuoso,
de um corpo que resta prostrado
em irrecuperável e vivo orgasmo,
nauseante como que posto a conceber-te.
Gozo III

O gozo que te procura
como a dever possuí-la
começa a emergir
de uma porção escura
em que já me sinto eu — ou a minha falta…
para culminar na gota que singela rutila
no sabor que frui a tua língua cauta.