Ode Desatinada

canto é o silêncio
o suspiro
o susto que desperta
a espera do ser
canto é o galope
o golpe da faca
a fenda
a gase
a menta
a crase
canto é o par de sapatos
a meia
a côr estranha
a poeira
a teia de aranha
canto a face que entrega ao ósculo
os óculos que trafegam sobre a cômoda
fotografando manhãs fatiadas de margaridas
canto é a cefaleia
a nevralgia
o xarope de alcaçuz
o diesepan do sono
os sonhos entre farrapos de algodão
e álcool
canto os olhos da mosca
a moça sem dentes
o anão sem braços
os passos da muleta na pedra
o medo que medra na asa do ocaso
canto o rádio de pilha
o som da ampulheta
a teta da vaca
o limo
a craca
o enxofre do vento
o mênstruo
o coentro
canto o despropósito
o desacerto o despautério
o siso
o juízo e a sua falta
o livro a lavra
o som e a palavra.