Sou passageiro do vento
que me leva aonde quer,
mostra-me coisas novas e antigas,
vividas e não vividas,
e até aquelas que eu julgava
imersas no túmulo do esquecimento.
Tal é sua liberdade
que lanço uma âncora
à segurança da terra
quando me canso,
ou amedronto,
ou quando quero,
com mais vagar,
deter-me em perceber alguma coisa que me agrada.
Nestes momentos,
ato-me com força
em defesa à fúria do vento que,
selvagem e sem dono,
faz-me de pipa como aquelas das crianças.
Então, com o ondulante vagar
que me proporciona o momento de quase calma,
olho com cuidado para as coisas e,
se me é possível,
pego-as com as mãos e sinto-as
em sua forma,
balanço-as para saber o que têm dentro
e guardo-as no bolso
se valem a pena.
E assim,
de pouso em pouso
vou enchendo os bolsos
de alegrias e tristezas.
Estas últimas,
que existem não sei por cargas d’água,
jogo para o mais fundo que alcanço
e passageiro continuo a ser,
a viver mais com as alegrias,
já que não percebo
qualquer outra razão
para estar aqui.