O Dia do Incompreendido

O dia dos incompreendidos,
a mim como porta estandarte,
o vizinho do lado com seu carro,
o vizinho de cima com sua mulher a gritar
e filha a espernear.
A família,
de quem nunca me dei conta
percebo que existiu
e não sei porque.
Outro não sei
que à minha lista se adiciona,
a minha lista, que a mim pertence,
a mim, que sou eu,
que provável sabe mais dos arredores
do que dos indoors,
e que tem vontade de dizer
Que importa?
Que levo eu daqui,
que colecionei eu daqui
a não ser a fieira de nãos seis,
a vaga do carro,
os gritos da mulher,
a canção da tevê,
o filme que começa com v,
o poema que salga,
a dor presa à camisa por pregador,
o padre que reza e diz que não são sete pecados,
são sete vícios.
E porque nasci católico?
e, ironia maior,
na Rua da Alegria,
eu, que estou mais para Rua da Tristeza
e Praça da Amargura.
Felipe,
sem impressão digital,
com carteira de identidade e cpf,
com firma estabelecida grafada em latim,
Aos dezoito dias do mês de novembro do ano 2000,
este ano,
que dizem o início do novo século
e que todos sabem que não é.
Antes que me esqueça,
ele (felipe) é dono de um gato,
já que de si não o é…