Dois Poemas

Aceno de vendaval…
O vento frio do norte cortou violento
Os caracóis rubros das ondas
Encrespando a calmaria suspeita
De um leito em latente ebulição…
Um violão, um fado amansado,
Calado, chora lamentos em surdina,
E eu, no vislumbre da distante luz,
Carrego tua cruz, por um instante…
És pluma que a aragem roubou
De um anjo no seu vôo consagrado…
És pensamento que a paixão criou
Num momento de desmedido encanto…
Amo-te, térmica em todos teus andares,
Etérea fusão de todos os elementos divinos,
Metade anjo, outra metade não sei…
De todas as incongruências a sublime unidade…

Queria…
Queria ser o mar em acroase
No oásis do teu despertar
Marola no luar em última fase
Criar o êxtase no teu olhar…
Queria ser instante em absoluto
No teu resoluto amor estuante
Ser estudante e diamante bruto
Um longo minuto deslumbrante…
Enfim ser poesia um firme laço
Autêntico abraço que frenesia
Ser uma frésia no teu espaço
Ávido sargaço na nua afrodisia…