Boca de Madrugada Chuvosa a Sugar-me a Alma

O trem da dor
nos trilhos da noite
não tem hora certa.
Cedo seda os dedos leves da rua.
Solidão de amor para mim
é a boca da noite
a sugar-me a jugular.
A dor, o trem, os trilhos, o louco motivo.
A locomotiva no sangue apita.
Palpita no delta um coração negro.
Solidão de amor para mim
é a boca da noite
a sugar-me a saliva.
A dor
são os trilhos que trilha o trem
por milhas e milhas e milhas…
Encruza-me o peito tua lembrança.
Solidão de amor para mim
é tua boca de madrugada chuvosa
a sugar-me a alma.
(este poema é para ser lido ouvindo Billie Holliday)
PRIMAVERA DAS VALQUÍRIAS
Na augusta mansidão das malvinas
rosas de amor-perfeito,
magnólias divinas.
Nos velados véus das virgínias,
amargas margaridas,
pólem de purpurina.
Na felina vênia das vânias,
violentas violetas,
angélicas meninas.
Na iminência vaporasa das lúcias,
adônis adormecidos,
sonhos de mescalina.