Escritura

Tecer versos é, por força,
Fazer sulcos em penedos,
Singrar as pedras todas
Do mar de si ao avesso,
Derramar suores em gotas
No fero vigor do remo.

É ferir à quilha da fragata
As artérias espumosas
Das altas internas vagas,
Navegar por entre as rochas,
Extrair exangues Leia mais

Daphnis et Chloé

Daphnis et Chloé
amanhece
da terra molhada
a vida recende

enfim
é por nós
a folha se abraça
com o vento
dança do tempo
a eternidade é agora

Hoje o Céu Fez-se Rio

Derramaram o azul,
Encharcaram as estrelas,
E o céu, que era mar
Fez-se rio, correnteza.
E as correntes tão frágeis
Que de nuvens são feitas
Não puderam parar
O azul rio de estrelas.
E o azul transbordou
Além-céu, além-mar
E os pedaços Leia mais

Saber Chorar

Do outro lado da rua
Vi seus olhos mudos
Seus lábio cegos
Suas mãos bondosas
Corri para ver você
Mas foges de mim
Corre desvairada sem rumo
Na fuga eterna
De se conhecer e dedilhar
A vida como quem não precisa
Deixar de louvar
Um Leia mais

História

Marque-se a fonte do sol nascente.
Espalhe-se uma fieira de farinha amarela pelo caminho
até o ponto do céu que queima os olhos.
Feche-se o livro.
Desligue-se a tv.
Basta então,
dar dois passos à frente,
um à direita,
levantar os braços sobre a Leia mais

Árvore e fruto

Despenco dos jardins
fruto maduro
traduzo-me
nos fins
regato escuro
Encontro-me nos
dias em que
[juro]
sou árvore antiga
centenária
olhando um pouco em cada
direção
Mulher
feixe de sons
raro instrumento
Tratado Leia mais

O pó:
na mesa
na cesta
na fruta fresca.
A mão que limpa
esta existência empoeirada
será o pó do amanhã
na mesa de um alguém.

Quatro Poemas

O Céu do Planeta (II)
dedicado a Filó
Ontem o céu escondeu seus mistérios por detrás
dos flocos de nuvens encantadas, apaziguadas pelo azul.
Que mistérios? Aqueles dos outros céus e outra luz, a dos outros sóis, arquidourada e de outras estrelas, darkblue,
e também Leia mais

Pilatos

As sacadas: queixos idiotas de prédios.
O mongolismo das ruas sob a maleita
amarelada que brota dos postes, almas
queimadas.
Ando, e comigo andam a morte e a idéia
da morte. Incões. Álacres, sempre bêbadas
irmãs. Esbarram-se com ruído de taças.
“Morreu Leia mais