Bem aqui dentro do peito…
Uma calma e um agito.
Um grito e um silêncio.
Alegrias e tristezas.
Desejos e contentamentos.
Tenho a necessidade do mundo.
E um divino desprendimento.
Vivendo certos dilemas.
Bem aqui dentro do peito…
Guardo
Ensaio
Os olhos:
refúgio último da vida
fugindo do corpo
molestado pelo tempo
No silêncio das horas
Que se passam como lesmas
Se perdendo em paredes findas
Um rabisco multicor sobre a cal
Alertando: aqui jaz o meu movimento
Perdido neste silêncio
Aleluia
Aleluia irmão, aleluia,
Procuras lírios no asfalto
Que o campo já regam com sangue,
Flutuas no mangue com a morte
E buscas na sorte das sobras
Entre as cobras, larvas e ratos,
Distrato da Natureza Divina,
Bolor de mofina e aflição.
Aleluia irmão,
Tua…
Se tu me amas,
sou tua..
Entrego
corpo e alma,
e nua
mato
tuas saudades,
sacio
teus desejos,
satisfaço
tuas vontades.
Sou teu chão,
teu céu,
tua morada,
conforto,
paz
e perdição.
Única
e exclusivamente
tua,
onde quer que vás.
Se não me amas,
paciência…
Não me terás.
Mulher
Mulher
sei do teu corpo
como se meu corpo fosse
sei da tua noite a solidão
sei no teu desejo
o meu desejo ardente
sei de ti mais
do que de mim sei
sei da tua seiva
o sabor agridoce
sei dos teus beijos loucos
a longa imensidão
sei
O Vento
Enquanto estou aqui,
parado,
sentado,
há um vento que urge lá fora e diz
Fica onde estás,
é teu lugar,
teu caminho,
teu descanso.
É teu recosto,
são tuas paredes,
tuas portas.
Tolo! sempre podes abri-las
quando te cansares.
Momento Mágico
Em sonho meu pai apareceu
Trazia escondido
Uma pequena laranja
Com cheiro de terra molhada
Pedaço da minha infância
Colhido do seu pomar.
Gesto delicado
Um tanto assustado
Daquele homem calado
Silencioso ao amar.
Nesse momento
Meu
Jazz para os Intranqüilos
Aqueles caras da década de 70
viraram flores finalmente.
São agora flores do mofo
e descansam em paz
nos cemitérios das bibliotecas públicas.
Enquanto isso a garota branca
olha para os seios murchos
e senta-se ao sol da segunda-feira
para folhear
Abstratando-me
Abstratando-me
converso com o quadro
que com silêncio me responde
nas cores se esconde
impostando a frigidez dos seus traços.
quatro paredes fazem-se mundo
aquiescendo eterna espera
de dois, o quadro e eu
sem palavras…
Incorpóreo
Incorpóreo
incolor
sexo
perplexo
tesão e
abandono
prazer
e dor:
masturbação
sombra
sem dono
O g a t o
é dono
da noite
não pede
licença
com passo
matreiro
chega
do meu lado
é dono
de mim
invade
o espaço
o olhar
ligeiro