I
Quedas serenamente estirada sobre o canapé.
Ao longo do corpo meus olhos tateiam tua geografia.
Há saliências e sulcos, picos e depressões.
Pontos devassados e misteriosos coexistem. Uns ainda
Não totalmente explorados. Outros virgens. Florestas
Impenetradas
Salmo-1
No mates.
No hurtes.
No adulteres.
Calla y deja que Dios actúe.
Calla y deja que Dios te diga.
El silencio de Dios es
como la risa de los niños.
Dios proveerá el milagro secreto
de tu vida y nadie lo verá,
porque Dios sólo da en lo oculto
Geográfico
Traço os teus limites de mulher:
De leste a oeste, o meu abraço.
De norte a sul, a minha boca.
Ao centro, a garganta da costa sinuosa:
oceano onde deságua meu relevo duro.
De resto, corpos sem limites:
Tudo é céu do nosso amor
a chover as tuas nuvens lúcidas
e as minhas águas loucas …
Dois Poemas: Amor Etéreo…;Da Dor me Falaste…
Amor Etéreo…
Vieste assim numa noite turva e chuvosa
Acalentar meu espírito irrequieto, carente,
Arrebataste meu coração com uma rosa,
Pousaste tuas asas sobre mim, de repente…
Despertaste meu mais intimo desejo,
E quando, trêmula, estendi minha
O Brilho que Aparece
A maior das terapias
mais internas
é a que começamos a fazer
ao escavar
nossas malditas e febris
cavernas
por onde iremos arrancar as terras
ressecar as nossas fibras
peles e tendões
Para que possamos caminhar
sem esconder
por tempo
Visão
Um anjo bateu lá em casa
à meia-noite em ponto
Já tinha feito minha cama,
dentes com escova escovado
pra dormir estava pronto
O anjo entrou reluzente
com luz a sair-lhe dos dentes
O anjo sentou e quis conversar
Conversas de noite, de papos de anjo,
Matinal
A aurora de unhas sujas, perturbada,
vagou sonâmbula no céu de Maio,
menstruando uma nuvem rubra a cada
pássaro aceso nesse bosque gaio.
No alto evaporou-se a branca estrada
e os vidros, combalidos do desmaio,
trincaram-se cá em baixo de alvorada,
berrando-se
Esmôquin
Onde foi que deixei meu esmôquin?
Dependurado em cílios de olhares cândidos
Flutuando por entre tábacas fumaças
Ao som benevolente de uma valsa triste
Indiferente à tosse dos presentes
Ao sabor de uma bala de hortelã
A bailar,
Um pra cá,
Estação
Ouviste o sino? Vai! O trem te espera.
Dá-lhe o corpo e sorri, com emoção
goza e grita, liberta a mulher-fera
sem mais olhar em minha direção!
Abandona-me… Segue e não pondera
que ao seu perfume corre a inspiração,
que deixa o odor da flor sem primavera
A palavra
O papel estremeceu
sem que vento soprasse
e letras voaram dele e cresceram.
Tomaram formas grotescas,
dantescas, animalescas.
E me amarraram,
arrancaram-me os dedos
tiraram-me a roupa
e me torturaram.
Depois, furaram meus olhos
puseram larvas