Não tinhas a menor noção,
Nem à consciência advém,
Que ao tocar em minha mão,
Me farias perder o trem.
Viajar adiante, eu precisava.
A parada foi distração.
Minha alma descansava,
Separada da razão.
Encantamento surgido
De uma voz que
Bula
O que em mim é permanente
sou eu;
caso mudo, é só a periferia
que me difere.
Conto haver em mim tanto,
mais tanto
no que sou incapaz de corrigir,
que direi do mundo,
dos outros…
Não mo fosse o que mais aflige e limita,
eu seria
A Vida Não Combina Comigo
Sinto-me despreocupado,
então,
com o meu vestir.
Misturo preto e marrom,
listas horizontais e xadrez,
sandálias e terno e,
até mesmo,
chapéu de lã sob o sol.
E neste descombinado,
pergunto-me,
sabendo que não terei resposta,
porque
Gosto
Gosto de ser gostada.
Como gosto de gostar…
Na mesma intensidade,
ritmo, cadência,
ardência, prudência,
frequência, querência,
pacência.
Gosto de ser gostada,
porque, como todos
os seres da raça animal,
gosto de carinho e estímulo.
De Amor e Saudade
Seguimos perdidos, perdendo
talvez, a noção do minuto.
As horas não são, e os momentos
não passam de vozes e vultos.
De tudo, talvez de surpresa
se vista o desejo mais fundo.
No rosto, um sorriso nos deixa
mais vivos e longes do mundo.
No entanto,
A Criação
Ao sexto dia Deus, Glorioso, toma o barro
e talha e molda e bruni a sua obra prima
e faz o homem. Logo, alegre , ele imagina
algo mais belo e nobre ainda, algo mais caro.
O Grande Anestesista faz dormir seu ente,
O Grande Cirurgião abre-lhe o peito e tira
costela
Eu e o Poeta
Tomo o poeta em minhas mãos
Tento penetrar em seus mistérios
Mas sua poética dura
É texto opaco.
A confusão dos meus olhos
Afeitos a ver no externo
Não consegue ler nas entrelinhas
O dentro dos mistérios.
Embotado embrutecido
Não consigo
Quem é você e outros poemas
A noite é tão silenciosa, calma, tranquila
Quando as pessoas dormem.
Hoje chove lá fora
O silêncio é maior ainda
As vezes é interrompido
Pelo tilintar do telefone
Mas nada de interessante
Gostaria de ouvir sua voz
Que diante deste silêncio
Cova rasa e outros poemas
Cova rasa
Nenhum letreiro, nenhuma flor,
nenhuma vala, nenhum romeiro,
nenhuma lágrima, nenhuma dor …
Nenhuma vida, vela ou veste,
nenhum santo branco ou preto,
nenhum padre brasileiro,
nenhuma sorte, praga ou peste
louva o chão desse canteiro.
O Canário
E o papel deste livro,
branco que era,
agora parece-me amarelo.
Amarelo pálido,
como o canário
que outrora via a cantar,
não para mim,
que canários não cantam para as pessoas.
Cantam
apenas porque sabem cantar,
nada mais.
Aquele