Dublê de Alma e Outros Poemas

Ando à toa na vida
catando cacos
do que sobrou da caminhada.
Pedaços que ficaram
por aí evanescentes
na solidão das brumas.
Há um deserto de coisas & palavras
albergado
no bazar de uma casbá
em que me dão preço
num leilão de Leia mais

Perda

A margarida desfolhou-se
e o periquito voou,
a andorinha exibiu-se
em suaves figuras aéreas
com suas colegas,
o frio invadiu nossa privacidade,
o céu acinzentou-se,
voltou a clarear,
a cachorrinha correu, alarmada,
perseguindo um gato,
a Leia mais

Boca de Madrugada Chuvosa a Sugar-me a Alma

O trem da dor
nos trilhos da noite
não tem hora certa.
Cedo seda os dedos leves da rua.
Solidão de amor para mim
é a boca da noite
a sugar-me a jugular.
A dor, o trem, os trilhos, o louco motivo.
A locomotiva no sangue apita.
Palpita no delta Leia mais

Novena

Concepção no inverno,
primavera, verão em gestação,
digo :
– Fui mulher !
Vida agora é estação outonal,
máscula,
a completar da elipse as estações;
não menos maiúscula, portanto,
a sanha.
Mulher de seio cheio,
de seiva Leia mais

A Ruazinha

A ruazinha delicada
protegida
pelos arbustos
observava
atrás da janela
aquela mulher
ao teclado
dedilhando sua saudade…
Quando a luz
adormeceu
e o silêncio
abraçou aquela janela,
a ruazinha delicada
aconchegando-se
na madrugada.
Chorou!

Hadado

(escrito entre 1978/1980)
1
una mano ríe en tus ojos
lento bajo
tal espacio
jadeo de la tarde
despierta duermes
2
sueño en tu realidad
tormentas de frío
arden en tu piel
cede la noche míos
zumo de la barbarie
3
camino Leia mais

Do Que Nada Me Lembro

Ao olhar-me nos retratos antigos,
de quando era pequeno,
de nada me lembro.
Tenho saudades do que não me lembro.
Se pudesse voltar àquele tempo,
quando me brilhassem os olhos
guardaria das coisas a alma junto à minha,
para lembrar-me
quando chegasse ao agora.

Foto Antiga

Quando o encontrei,
naquela foto tremida,
dentro do livro amarrotado,
você sorria.
Os olhos meio-fundos,
meio-mundos,
imprecisos,
presos no tempo.
Quando o encontrei,
ao vivo, desesperado,
você chorava.
Os olhos meio-cansados,
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Segunda Habitação

A noite se vai…
A dama Aurora me vem de lá
enquanto os meus Dias já se vão…
daqui, ainda sem um sol.
(Dias, os Senhores!
A Senhora! Noite…)
Sempre há alguém, que ao seu ninguém retorna;
quem, um dia a mal se sabe bem, talvez se torna.
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Outra Quinta, Outro Quintal

Meu coração se espanta
é natural
Quando o medo chega perto
e reproduz tempo
integral
aquela parte inanimada
E no entanto é parte dela
que dispara tanta
Vida
adquirida num pedaço
de quintal
Onde brincara noutro tempo
áureo Leia mais